Está a ser difícil afundar a bARCA da Memória do Porto

Apesar de ter 2500 objectos, a bARCA não estava a submergir. As memórias "precisam de mais algum tempo para respirar" — nada que mais lastro não resolva

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A barca saiu para o mar no domingo, após uma tarde de festa Adriano Miranda

A bARCA da Memória do Porto, cujo afundamento no mar estava previsto para segunda-feira, não estava a submergir, porque, apesar de ter 2500 objectos, o material é leve. O problema vai ser resolvido com mais lastro."A barca não quer afundar", disse à Lusa

Anselmo Canha, coordenador do programa cultural Manobras no Porto, explicando que a solução para conseguir fazer mergulhar as memórias doadas pelos portuenses passa por aumentar a "eficácia dos lastros". Numa visão mais romântica, e menos técnica, Anselmo Canha sugere que as memórias do Porto estão com "uma réstia de emoção". "Estão indecisas na sua missão e precisam de mais algum tempo para respirar".

Ainda assim, o objectivo traçado pelo Manobras no Porto vai ser levado a cabo e a solução passa por aumentar a eficácia dos lastros. A bARCA da Memória é um projecto inserido no programa Manobras no Porto, cujo objectivo é afundar, no mar, cápsulas herméticas, impermeáveis, invioláveis, inoxidáveis e não poluentes, com memórias doadas pelos portuenses que serão desvendadas daqui a cem anos".

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Comandante da PSP do Comando Metropolitano do Porto contribui para a cápsula Adelaide Carneiro

Um paralelo de calçada portuguesa, cigarros, um conto infantil, uma multa de estacionamento, um xaile Mulher de Negro da Porto Cruz, lamparina de azeite, fotografias da cidade ou as estatísticas da Câmara do Porto são exemplos das memórias doadas. 

O programa Manobras no Porto é um projecto bienal de intervenção sobre o património imaterial do centro histórico do Porto, que foi comparticipado em 80% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e 20% pela Câmara do Porto, tendo tido um investimento de cerca de dois milhões de euros. 

Os dez dias de eventos do Manobras no Porto 2012 culminaram no domingo, na Ribeira do Porto, com o concerto de uma orquestra para homenagear os portuenses e a cerimónia de adeus à bARCA da memória, que ontem deveria ter sido afundada. Ao longo de dois anos, o programa recebeu mais de 200 mil pessoas, entre participantes directos e aqueles que absorveram os conteúdos, um número muito positivo para Anselmo Canha. 

Em termos de adesão, Anselmo Canha explicou que este ano o Manobras teve "mais gente", "mais envolvimento das comunidades do centro histórico e predisposição para construir" e um "aumento de reconhecimento desta acção cultural" em relação ao ano de 2011. Este ano, o programa de revitalização do centro histórico do Porto arrancou dia 28 de Setembro e apresentou durante dez dias - até 7 de Outubro -, mais de 300 eventos, entre os quais 88 grandes projectos, sendo a maioria deles novas produções. O programa Manobras entra agora, e até 31 de Dezembro, na fase denominada "Cismar", para escrever em documento tudo o que foi realizado e todas as aprendizagens. O objectivo é "estabelecer possibilidades de linhas de acção" para o futuro, concretiza Anselmo Canha.

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