Morar em Trondheim: a aventura norueguesa de Cláudia Arnaut, uma arquitecta de 31 anos

Cláudia Arnaut reside permanentemente em Trondheim, Noruega, desde 2011. Sente-se bem e só mesmo motivos pessoais a levariam a regressar

Cláudia nasceu em Harare, na República do Zimbabwe DR
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Para a maioria dos portugueses quando se fala na Noruega a primeira coisa que lhes vem à cabeça é, inevitavelmente, bacalhau. Aceitável, tendo em consideração o gosto dos lusitanos por essa iguaria. E se falarmos de Trondheim, o mais certo é responderem que nunca ouviram falar. Outros, contrariamente, dirão que é a cidade que acolhe o mais conhecido clube de futebol do país, o Rosenborg. Mas Trondheim é mais do que isso. É a terceira maior cidade da Noruega, com uma indústria naval forte, uma universidade e institutos de investigação de prestígio e uma beleza única. E Cláudia comprova-o.

Cláudia Arnaut tem, desde logo, uma história de vida diferente e que implica mudanças entre países. Descendente de portugueses de Moçambique, nasceu em Harare, na República do Zimbabwe. Mas em 1988 viria para Avelar, Coimbra. Aqui concluiria o ensino secundário e, posteriormente, ingressaria em Arquitectura no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra. Paralelamente, estudou no Conservatório de Música de Coimbra e integrou bandas filarmónicas locais e universitárias. Mas aquilo que mais queria era explorar o mundo. Estava-lhe no sangue desde o nascimento.

A primeira experiência em Trondheim deu-se em 2007 e ao abrigo do programa Erasmus. “Tomei contacto com a cidade quando fiz cá Erasmus no meu último ano de faculdade. Durante esse período desenvolvi contactos, trabalhando em part-time e depois em full-time, de 2008 a 2009, em gabinetes diferentes”, esclarece. Entretanto regressaria a Portugal para defender a sua tese de mestrado e ter uma experiência de trabalho no Bahrain porque quis “experimentar uma cultura diferente". "Regressei novamente a Portugal para tentar encontrar trabalho, mas não foi fácil e as experiências não foram as melhores”, confessa. Em Fevereiro de 2011 recebeu uma oferta de trabalho em Trondheim que aceitou e, desde então, por lá tem estado

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Jorge Baldaia escreve quinzenalmente a rubrica Notícias do Lado de Lá

Uma cidade social em todos os aspectos

Trondheim, de acordo com Cláudia, “é uma cidade pequena, com cerca de 170 mil habitantes, cujas principais actividades económicas são o conhecimento e a indústria naval. A cidade é conhecida pela sua universidade e pela rede de empresas associadas que se dedicam à investigação”.

Mas, acima de tudo, é uma cidade com vertentes sociais e culturais muito fortes, fazendo jus à ideia que todos temos das sociedades nórdicas. “A cidade de Trondheim tem condições fantásticas para quem tenciona começar uma família, por exemplo. O Estado proporciona excelentes condições, desde licenças de maternidade e paternidade, estabilidade financeira e todo o apoio infra-estrutural, como escolas, transportes ou apoio médico”, refere. Além disso a oferta cultural da cidade é bastante “satisfatória, com frequentes e diversos festivais e concertos, desde artistas locais a nacionais e até internacionais”. E chama ainda a atenção para o lado desportivo: “A nível de desportos, associados à Universidade, existe todo um grupo de actividades a que te podes juntar.”

Ainda sobre a cidade, Cláudia Arnaut admite que não conhecia "absolutamente nada de Trondheim, nem da Noruega, por assim dizer”. Talvez por isso mesmo tenha ficado “deslumbrada com a organização, limpeza e área de espaços verdes existentes dentro da própria cidade" — "Garantem uma estabilidade que te permitem definir pessoal e profissionalmente.”

Por outro lado, adianta que a cidade “pode ser assimilada como a atmosfera de uma vila extensa". "A nossa definição de cidade com grandes avenidas alcatroadas, edifícios monumentais e escalas avassaladoras não existe da mesma forma na Noruega, nem sequer mesmo em Oslo. A escala adquire um carácter mais humano e aprazível. A natureza na Noruega é de tal forma imponente que qualquer elemento inserido nela perde carácter independentemente da escala de que falamos. E agrada-me o facto de ir de bicicleta para qualquer lado.”

O aspecto menos positivo é a distância para com Portugal. E o clima: “É um factor que me afecta bastante. Nunca pensei que tivesse uma influência tão grande. Pode-se literalmente ficar doente com a falta de sol e o teu humor mudar substancialmente quando amanhece com raios de sol a entrarem-te pela janela.”

Já sobre a sociedade norueguesa, Cláudia aponta a “transparência com que o Estado está organizado e a enorme estigmatização de quem tenta ser corrupto”. Também a forma “eficiente e ágil como as infra-estruturas e serviços públicos estão organizados, gratuitamente, e que faz com que os cidadãos sintam um retorno relativamente ao valor alto que pagam de impostos”. Neste aspecto, em Portugal, há "ainda um longo caminho a percorrer”, desabafa.

Entretanto, Cláudia Arnaut ingressou numa organização não governamental chamada Chivi Foundation. “Esta ONG tenta reabilitar e desenvolver infra-estruturas escolares numa pequena aldeia no interior do Zimbabwe”, explica. Uma forma de manter contacto com o país onde nasceu e, de certa forma, distrair-se e amenizar as saudades da família e amigos. Regressar a Portugal? A sua resposta é peremptória: “nunca digas nunca”.

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