Empresa de Viana do Castelo quer afundar avião para atrair mergulhadores
A submersão, ao largo de Viana do Castelo, de um avião com 60 metros de comprimento e a deslocação para alto-mar de uma traineira actualmente afundada na doca comercial da cidade são dois dos projectos através dos quais a empresa Costa Norte - Centro de Actividades Marítimas pretende criar, na capital do Alto Minho, um centro de mergulho com potencial para atrair praticantes de todo o mundo.
Segundo fonte da empresa, que se instalou há menos de um mês no complexo turístico da marina de Viana do Castelo, o processo de aquisição do avião já foi iniciado junto da Força Aérea Portuguesa e também de entidades dos EUA e de São Tomé e Príncipe. Cumprida esta etapa, a Costa Norte, que em Viana já explora uma loja de equipamentos náuticos e uma escola de mergulho e se prepara para realizar provas desportivas e passeios turísticos no rio Lima, pretende avançar com a legalização do projecto junto da administração central e local. A submersão do avião, que ficaria a duas milhas da costa, ao largo de Carreço, é uma ideia que agrada à Câmara de Viana.
Este centro de mergulho, a concretizar até 2014, está orçado em 1,5 milhões de euros e será objecto de uma candidatura ao QREN, a apresentar pela Costa Norte, propriedade de um empresário de Barcelos. A empresa já possui um helicóptero M80 de sucata, mas o objectivo é mesmo submergir um avião. Pode ser um DC6 ou um DC4. O sonho seria um DC3 Dakota, mas esse modelo, segundo fonte da empresa, é muito procurado para filmes de guerra e, portanto, de difícil acesso.
O projecto não é inédito, nem sequer em Portugal. Em Setembro, a Câmara de Portimão também vai afundar, a 30 metros de profundidade, ao largo de Alvor, quatro antigos navios, entre eles a fragata Hermenegildo Capelo, oferecidos pelo Ministério da Defesa.
Ainda esta semana, uma escola de mergulho de Faro anunciou a criação de um roteiro subaquático que vai permitir aos mergulhadores navegar junto dos destroços de um avião bombardeiro afundado durante a II Guerra Mundial, o "Liberator" PB4Y, versão da Marinha dos Estados Unidos do B-24.
Esta iniciativa resulta de uma parceria da escola Hidroespaço com o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e implica a instalação de cabos de guia e de cinco placas identificativas nos destroços que informam os mergulhadores sobre as diferentes partes do avião e ajudam-nos a fazer a identificação a fauna e flora que deverá surgir no local.
A nível internacional, este tipo de atracção turística existe também, por exemplo, no Canadá e na Bulgária. Neste país, em 2009, o avião do antigo líder comunista Todor Zhivkov foi afundado no mar Negro, ao largo de Varna.
Em Viana, a Costa Norte também quer utilizar uma traineira naufragado na doca comercial há um ano. A Lírios do Neiva naufragou a 18 de Agosto no porto de Viana do Castelo, numa altura em que já estava bastante deteriorada. O barco de pesca estava apresado às ordens do Tribunal Judicial da comarca desde 2008, num processo de penhora. O objectivo da escola de mergulho é fazer emergir a traineira e voltar a afundá-la no mar alto, para assim criar um recife artificial ao dispor dos mergulhadores.
Há outros casos de aproveitamento turístico de autênticas relíquias marítimas entre os municípios portugueses. A Câmara de Almada está na corrida aos três antigos submarinos da Marinha Portuguesa. A autarquia quer convertê-los num pólo museológico, em doca seca. E a própria Câmara de Viana do Castelo acalenta, desde 2006, o desejo de instalar, junto ao navio-hospital Gil Eannes, um daqueles submarinos, o Delfim. O protocolo entre o município, a Marinha e o Ministério da Defesa está há muito assinado, mas as negociações ainda não chegaram a bom porto.
Mas a Costa Norte tem mais planos. A empresa, que pretende abrir filiais nos Açores e em São Tomé e Príncipe, também quer criar em Viana um equipamento semelhante ao Fluviário de Mora (FLU). O projecto já foi apresentado à câmara e o investimento, que rondará os cinco milhões de euros, agradou ao município, por vir ao encontro da aposta deste executivo em transformar Viana numa cidade náutica.
"Cidade náuticaA Câmara de Viana do Castelo assumiu como desígnio estratégico a afirmação de Viana como "cidade náutica". O projecto-bandeira é o Centro de Mar, que, até ao final do ano, deverá arrancar com a reconversão do navio-hospital Gil Eannes, hoje a funcionar como museu, em Centro de Interpretação Ambiental e de Documentação do Mar. A intervenção está orçada em 750 mil euros e tem comparticipação comunitária.
O Centro de Mar inclui a construção de três equipamentos desportivos. Um deles, o Centro de Remo (1,4 milhões), já está em obra na margem direita do Lima. Em Darque, deverá começar em breve a construção do Centro de Canoagem (1,5 milhões), com três pavilhões destinados a acolher atletas e turistas. O Posto Náutico de Vela (1,6 milhões) deve ficar pronto em Junho do próximo ano. Vai nascer junto ao Campo d"Agonia, precisamente na zona onde a empresa Costa Norte quer instalar um grande aquário que, ao contrário do Fluviário de Moura, não seria exclusivamente dedicado à água doce. Além de servir de montra a toda a fauna e flora dos rios Cávado, Lima e Minho, o equipamento daria especial atenção aos ecossistemas do litoral norte de Portugal.
Notícia corrigida às 20h30:corrige explicação do projecto da escola de mergulho Hidroespaço, em Faro