Fiel Companheiro

Grupo de personagens à deriva, não enquanto o cadáver esfria (como em Os Amigos de Alex, 1983) mas enquanto o cão não é encontrado. Eles perdem-se, e quando já se cansaram de procurar, encontram-se. O retrato está traçado desde o início e não vai haver abertura ou fuga ao formato. Pode imaginar-se um cineasta, que teve notoriedade nos anos 80, manietado, preso neste momento ao “telefilme de domingo à tarde”, e concluir-se qualquer coisa de injusto e negativo sobre “hoje”. Pode, mas no exercício de olhar para o passado (para Noites Escaldantes, para Os Amigos de Alex ou até para o atmosférico Turista Acidental) talvez se descubra que o cinema do argumentista Kasdan sempre tratou, sobretudo, de conservar o património emoldurado; sempre escreveu com o cuidado de não desarranjar o formato. E que foi, provavelmente, a nostalgia pelo que é reconhecível como “clássico” - a tal coisa emoldurada, como o western que surgia em Silverado - que fez dele um dos nomes queridos de então. E então eram os 80s. Isto para dizer que Fiel Companheiro não é aquilo ao que o cinema de Lawrence Kasdan chegou, é aquilo de onde o cinema de Lawrence Kasdan sempre partiu - pode é talvez ser um ponto zero disso. Há, é verdade, um acréscimo de (auto-)ironia nesta espécie de O Regresso de Lassie para maduros, aproveitemo-la, então, é uma possibilidade de respiração dentro do espartilho. Isso e os “velhos”, Keaton, Wiest e Kline...

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