Greve dos médicos com adesão muito perto dos 100%, dizem sindicatos

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Dois dias de greve, em defesa do SNS, dizem os médicos Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Num primeiro balanço da adesão à greve no primeiro dos dois dias de paralisação, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) estima que entre 95 a 100% dos clínicos aderiram ao protesto. O Sindicato Independente dos Médicos evita avançar com números, mas garante uma “adesão extraordinária”, superior aos 85%. O Ministério da Saúde adianta que não vai revelar dados, porque essa divulgação não tem cobertura legal.

O vice-presidente da FNAM, Mário Jorge Neves, diz que já estão contabilizadas muitas dezenas de unidades de saúde, entre hospitais e centros de saúde, onde trabalham mais de dois terços dos médicos do país. “São níveis de adesão esmagadores, que superam muito as nossas expectativas iniciais”, afirma Mário Jorge Neves. E acrescenta: “Isto revela uma vontade inequívoca da classe médica em não se deixar espezinhar por qualquer Governo e lutar por princípios básicos como o Serviço Nacional de Saúde”.

A título de exemplo avança com o cenário de duas das maiores unidades de saúde do país: o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que apresenta um nível de adesão de 99% e o Hospital de São João, no Porto, onde 95% dos médicos escalados não foram trabalhar. Mário Jorge Neves garante que o Hospital de São José, em Lisboa, atingiu uma adesão de 100%. Além disso, diz que em dezenas de unidades de saúde familiar só uma dispõe de um médico a dar consultas.

O PÚBLICO constatou que no Centro Hospitalar do Porto 100% das cirurgias programadas não vão ser realizadas e nas consultas externas a paragem é de 70%, com apenas 27 dos 89 consultórios a funcionar. Mas este hospital admite que haja médicos em greve que, mesmo assim, estão a dar consultas. Há ainda vários centros de saúde vazios e com poucos ou nenhuns médicos.

O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, diz que os blocos operatórios do Santa Maria, do São José e do Hospital Amadora-Sintra estão encerrados.

“No Amadora-Sintra dos 50 profissionais que deveriam estar a dar consulta estão a trabalhar apenas dois”, continua. “Esta é a prova que o pré-aviso se justifica e que os médicos não se deixaram enganar pelas tentativas do Governo esvaziar a greve com o anúncio de medidas pontuais nos últimos dias”, argumenta Roque da Cunha.

Mário Jorge Neves diz que a grande adesão se deve a uma mistura de factores e que o facto de o ministro da Saúde, Paulo Macedo, ter falado há dias na hipótese de requisição civil pode ter contribuido para reforçar o protesto. “Os médicos estão basicamente a lutar pela defesa do Serviço Nacional de Saúde, pela qualidade e dignificação da profissão e pelo cumprimento da legislação laboral existente”, resume o vice-presidente da FNAM.

O sindicalista está convencido que a manifestação marcada para as 15h em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa, também vai ter uma participação maciça. “Vão ser milhares de batas brancas. Só do Norte e Centro estão a deslocar-se em camionetas mais de 800 pessoas”, precisa.

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