Governo chinês promete investigar violência sobre Chen Guangcheng

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Chen Guangcheng Foto: Reuters TV

O activista cego chinês Chen Guangcheng, que está no centro de uma das mais graves crises diplomáticas entre a China e os EUA da última década, garante que o Governo central lhe prometeu que irá investigar a violência exercida sobre a sua família pelas autoridades da província de Shandong desde 2005, ano em que denunciou uma política de abortos forçados na região.

Numa entrevista à agência noticiosa Associated Press – que descreve a promessa como "um raro exemplo de Pequim a curvar-se perante as exigências de um activista" –, Chen conta que recebeu a garantia de um funcionário do Governo no hospital para onde foi levado depois de ter abandonado a embaixada dos EUA, onde se refugiara após ter escapado à prisão domiciliária na província de Shandong, na zona Este da China.

"Depois de ele ter tomado nota da minha declaração, disse-me que iriam lançar uma investigação, desde que comprovassem a existência de factos. Se tiverem provas de ilegalidades, então vão tratar esta questão de forma clara e aberta", disse Chen à Associated Press.

Mas o activista cego – que espantou o mundo há duas semanas ao conseguir iludir a vigilância de dezenas de guardas que acompanhavam todos os seus movimentos 24 horas por dia – continua com dúvidas quanto à seriedade da investigação prometida pelo Governo central: "O inquérito será minucioso? É difícil de dizer, por isso vamos ter de acompanhar tudo de perto".

Pequim evita controlar autoridades locais

Noutra entrevista, à agência Reuters, Chen Guangcheng mostra que a promessa do Governo central representa uma vitória, num sinal de que a atenção mundial despertada pela sua fuga já teve efeitos práticos: "Agora que eles fizeram a promessa, eu vou insistir para que a cumpram".

Em 2006, Chen Guangcheng foi condenado a quatro anos e três meses de prisão, após ter denunciado a existência de uma política sistemática de esterilizações e abortos forçados em Shandong. Já em 2010, foi posto em prisão domiciliária. Chen acusa as autoridades locais de terem agredido com extrema violência a sua mulher e a sua mãe e de o terem espancado frequentemente, num caso que torna evidente os limites da autoridade do Governo central sobre as inúmeras províncias do país

Para o especialista em ciência política Dali Yang, as autoridades centrais "não têm muitas razões para intervir", a não ser que um determinado assunto se transforme numa grave crise internacional – como aconteceu no caso de Chen Guangcheng –, "mesmo que não gostem do que as autoridades locais estejam a fazer". Isto porque "eles não querem deixar passar a ideia de que estão a intrometer-se, porque a atitude dos responsáveis locais ajudam o Governo central a manter a estabilidade no país, mesmo que por vezes tenham atitudes excessivas”, explica o especialista.

Chen Guangcheng, a sua mulher e os seus dois filhos continuam no hospital à espera de autorização para saírem do país. O acordo celebrado nos bastidores entre Washington e Pequim, na semana passada, prevê que Chen possa estudar nos EUA, de onde já recebeu uma oferta de bolsa de estudo. A situação não registou qualquer evolução até hoje e Chen continua a temer pela segurança dos seus restantes familiares, que vivem em Shandong.

Apesar de tudo, o seu advogado, Li Jinsong, mostra-se confiante e congratula-se com a promessa de uma investigação por parte do Governo chinês, apesar de sublinhar que não espera rapidez neste processo: "A justiça costuma chegar tarde, mas chegará", afirmou, em declarações à Associated Press.

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