A Vingança de uma Mulher

A palavra-chave, neste filme, é cerimónia. Porque A Vingança de uma Mulher progride por antecâmaras que dão acesso a um espaço mental: uma sala encarnada para onde é atraído um dandy, Roberto (Fernando Rodrigues), quando vai atrás de uma prostituta (Rita Durão). O que lhe acontece, o que leva Roberto do cinismo onde se refugia até ao confronto com o irrecusável, é o que nos acontece, a nós espectadores: a uma prendizagem visual, sentimental, existencial através de patamares de naturalismo e artifício; educação e logro, portanto, até chegar ao espaço de Rita Durão, essa duquesa de Sierra-Leone que arrasta o corpo e o nome do marido pela vida para se vingar de lhe terem atirado o amor aos cães. Que homem se torna no fim Roberto? Que espectadores nos tornamos? É das experiências de maior envolvimento físico, por isso, neste momento em sala. E das mais fantasmáticas. Nada de arqueológico em A Vingança de uma Mulher: este fantasma de filme - de um cinema que se faz perigosamente físico ao tocar nos adereços de estúdio e, por isso, a desencadear coisas estranhas na nossa mente e no nosso corpo - insiste em manter-se aqui.

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