O Benfica roda menos a equipa do que os rivais

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O final da I Liga está a mostrar dois candidatos ao título em dificuldades e um com mais confiança. É nestas alturas, no último terço da temporada, quando se acumula o esforço e a pressão atinge o seu máximo, que se vê quem investiu bem na criação de um grupo de trabalho homogéneo e de qualidade. Curiosamente, o sinal mais forte nessa área vem exactamente da equipa que menos recursos teria para o conseguir: o Sporting de Braga.

Enquanto o FC Porto e o Benfica parecem em esforço, o Braga veio de trás e já passou para a frente, fruto de uma série recorde de 13 triunfos consecutivos. E estes não apareceram por acaso: é no Minho que reside, neste momento, o melhor futebol que se pratica no campeonato.

Tirando Hulk e Moutinho – o primeiro em mais uma fase positiva depois de períodos de apagamento; o segundo confirmando que tem a fiabilidade de um motor a gasóleo dos antigos mas com a capacidade de aceleração de um turbodiesel moderno –, a equipa do FC Porto só funciona a espaços. E, mais do que as oscilações individuais de forma, o maior problema parece ser a dificuldade para estabelecer um estilo, uma personalidade, em campo. E tudo isto é ainda mais grave porque os dragões já só estão concentrados numa frente competitiva.

O Benfica vai ter três semanas arrasadoras, mas já parece cansado (talvez até mais mental do que fisicamente) antes da série fulcral de jogos para a Liga dos Campeões e com Braga e Sporting para a I Liga. Faltam imaginação e espontaneidade para manter o estilo de jogo alegre e goleador da primeira metade da época; falta capacidade física para impor a pressão defensiva no campo todo e ganhar bolas para o contra-golpe.

Este tipo de coisas previne-se. Construindo um grupo de trabalho com mais do que uma opção para cada posição em campo e procedendo a uma rotação bem programada (e uma rotação bem programada não é fazer três substituições por jogo; é mudar os titulares para garantir a todos o ritmo competitivo indispensável à sua utilização em qualquer situação) ao longo da época.

Mas basta olhar para alguns números do campeonato para se perceber que isso não foi (bem feito), principalmente para os lados da Luz, onde residia, a crer nas análises do início de época, o conjunto de jogadores mais valioso e equilibrado do nosso campeonato.

Contabilizando apenas as 24 jornadas da I Liga, os onze jogadores mais utilizados pelo Benfica somam 18.480 minutos em campo. É mais do que acontece no Braga (17.760) e muito mais do que no FC Porto (14.065). Na Luz moram três jogadores (Artur, Witsel e Nolito) que alinharam em todas as partidas, outro (Cardozo) falhou apenas uma. O mesmo cálculo devolve apenas um totalista no FC Porto (Helton) e outro no Braga (Lima). Há 18 futebolistas da equipa de Leonardo Jardim que actuaram em pelo menos um terço das partidas, contra 17 em qualquer dos rivais na luta pelo título.

Sim, os números não são tudo. No FC Porto, por exemplo, dois actuais titulares (Janko e Lucho) chegaram já com a época a decorrer e o argentino Belluschi, que saiu em Janeiro para Itália, ainda aparece entre os 11 mais utilizados... Mas há contas que não enganam: no Braga, só três dos 29 jogadores utilizados estiveram em campo menos de 90 minutos; no FC Porto, são três em 28; no Benfica, seis em 26.

Ou seja, o Benfica fez alinhar menos jogadores, carregou mais o seu onze titular e diversificou menos as opções que tem no banco. Jorge Jesus há-te ter números destes ao seu dispor e o facto de o Benfica ainda estar em três frentes só reforça a necessidade de analisar em profundidade esta tendência do seu técnico para se agarrar a uma fórmula que resulta e só mudar os seus protagonistas quando não tem outra alternativa. Pela terceira época consecutiva, o Benfica chega à Primavera de rastos.

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