Alargamento a 18 clubes sem despromoções abre frente de batalha

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Mário Figueiredo Foto: Nelson Garrido

Abriu-se uma nova frente de batalha no futebol português. A decisão de alargar o principal campeonato de 16 para 18 equipas já a partir da próxima época, num cenário que não prevê nenhuma despromoção, provocou a indignação de alguns dos dirigentes e ameaças de impugnação da assembleia-geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), que decorreu no Porto. À cabeça dos protestos, estão Sporting e Nacional.

Houve duas propostas a votação com sortes distintas. Passou a do alargamento do número de participantes na Liga (31 votos a favor, 15 contra e duas abstenções), chumbou a do formato que permitiria esse desiderato (29 votos contra, 17 a favor e duas abstenções). Ou seja, a ideia defendida por Mário Figueiredo (presidente da LPFP), de promover uma “liguinha” entre os dois últimos classificados da I Liga e o terceiro e quarto classificados da Liga de Honra, caiu por terra. Conclusão? A alternativa encontrada passa por não haver descidas de divisão no final da presente época desportiva.

Um cenário que é liminarmente rejeitado pelo Sporting. À saída da reunião, já perto das 23h, Luís Duque manifestou totais reservas sobre a viabilidade desta decisão: “Não acredito que seja isso que vai acontecer, porque isso põe em causa o edifício do futebol português. Votámos contra e não acreditamos que entre em vigor porque cremos que é ilegal”, explicou o representante dos “leões”. “Da Liga isto ainda passa para a federação [FPF]. E há ainda o recurso aos tribunais, por isso penso que esta modalidade não irá passar”, acrescentou.

Posição semelhante, embora com um discurso mais radical, é a do Nacional da Madeira. O clube, que, à imagem do Sporting (os “leões” contestavam o timing da entrada em vigor da medida e o delicado momento económico-financeiro que os clubes atravessam), votou contra o alargamento, manifestou total desagrado face ao modelo encontrado.

“Isto é uma caldeirada. Hoje foi a promoção completa da ilegalidade, promovida pelo presidente da Liga e por um conjunto de clubes que envergonham o futebol nacional e produziram nos bastidores actuações no sentido de perverter a verdade desportiva. Não é admissível que uma competição se dispute sem penalização e valorização do mérito”, defendeu Rui Alves, presidente do clube insular, anunciando que “irá impugnar todos os pontos” desta assembleia geral.

Contra a proposta de alargamento votou ainda o FC Porto. O representante dos campeões nacionais acabou por fazer uma declaração de voto onde deu conta da oposição dos “dragões”.

Que espectáculo resta?

Uma das bandeiras de campanha de Mário Figueiredo na recente corrida à presidência da LPFP, o tema do alargamento gerou sempre algum mal-estar. Chumbada a proposta de uma “liguinha”, o dirigente acabou por ficar com o modelo da não despromoção dos últimos classificados em mãos. Em conferência de imprensa ao final do dia, Figueiredo preferiu falar em clubes “repescados”, mas o efeito prático é o mesmo.

É justamente este formato que o Sporting contesta com veemência: “Ficou decidido que não descia ninguém nas duas Ligas [profissionais]. Que espectáculo é que nos resta até ao fim da época? Isto era manchar a verdade desportiva”, rebateu Luís Duque, insistindo que as condições para avançar com esta decisão “não são, nesta altura, as mais favoráveis”. “O mais grave é alterarem-se as regras a meio do campeonato”, enfatizou.

Independentemente da posição de força dos opositores, a proposta aprovada seguirá agora os trâmites normais, o que significa que terá ainda de ser aprovada pela Federação Portuguesa de Futebol. Tendo em conta as ameaças de alguns dirigentes, é muito provável que a batalha jurídica em torno de um dos temas mais quentes do futebol português esteja apenas a começar.

Notícia actualizada às 23h36
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