Fim da crise

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Os jogadores do Benfica fazem a festa Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP

Não foi um apuramento com nota artística, mas foi completamente merecido. A melhor equipa segue em frente e a coragem de atacar derrotou o cinismo de quem se esquece que o futebol não é só a defesa. O Benfica apurou-se para os quartos-de-final da Liga dos Campeões, vencendo o Zenit de São Petersburgo (2-0) e colocando fim a uma série de quatro jogos sem ganhar.

A equipa de Jorge Jesus chega aos quartos-de-final da Champions pela primeira vez desde 2005-06 e ganha novo alento anímico para o resto da época. A exibição frente ao Zenit teve mais de inteligência do que de espectacularidade, num jogo em que o Benfica soube lutar contra alguma falta de confiança. O crédito de Jesus e companhia ganha ainda outro relevo porque, do outro lado, esteve um adversário que, apesar dos milhões da Gazprom, preferiu esconder-se a assumir o jogo, numa versão moderna do “catenaccio”, que o austríaco Karl Rappan inventou na Suíça e que foi popularizado em Itália a partir da década de 60 do século passado.

Em vantagem na eliminatória, os russos preocuparam-se em destruir o jogo do Benfica e fechar todos os caminhos para a sua baliza. À má maneira italiana, o Zenit não só arrefeceu o jogo, como foi usando todos os truques possíveis para passar tempo – com jogadores caídos no chão, demorando cada pontapé de baliza ou cada livre.

Nestas circunstâncias, e sem Aimar (o melhor criativo da equipa), o Benfica foi oscilando. Algumas vezes sentiu dificuldades em construir jogo (especialmente quando os russos pressionavam mais alto), outras vezes criou perigo, quase sempre graças a Bruno César, que jogou do lado direito e soube fugir muito bem para o centro.

O brasileiro foi o primeiro a estar perto de marcar, com dois remates perigosos, um defendido por Malafeev (15’) e outro por cima (40’). E teve também papel relevante no lance do golo, iniciado por Witsel, que foi um dos principais criadores de jogo, até pela discrição de Gaitán e Rodrigo.

O belga iniciou uma jogada em que o Benfica colocou seis homens no ataque, rematou para defesa de Malafeev e teve um toque de calcanhar decisivo a permitir a recarga a Maxi Pereira (45+2’), que já tinha marcado na Rússia e voltou a integrar-se bem nas acções ofensivas.

O golo transformou o jogo, com o Zenit a ter finalmente de atacar, algo que manifestamente tem dificuldades em fazer.

O Benfica recuou no terreno e Jesus até reforçou o meio-campo com a entrada de Matic. Era hora de gerir a vantagem e tentar matar a eliminatória no contra-ataque. Só que, um pouco surpreendentemente, a equipa da Luz demorou muito tempo a explorar os maiores riscos assumidos pelo adversário. Muito por culpa do apagado Gaitán e também pelo facto de Cardozo ser um avançado demasiado fixo.

Quando acordou, o Benfica ficou a dever a si próprio alguns golos. Cardozo, isolado, atirou ao lado (70’) e depois obrigou Malafeev a uma boa defesa (75’). Gerindo bem as substituições, Jesus trocou o paraguaio pelo bem mais rápido Nélson Oliveira. O jovem era o ideal para as saídas rápidas e provou-o. Primeiro, por egoísmo e juventude, rematou por cima (85’) quando tinha companheiros mais bem colocados, mas já em período de compensação sentenciou a eliminatória, finalizando uma jogada rápida, criada por Witsel e Bruno César.

E se é, em boa parte, ao ataque que o Benfica deve a qualificação para os quartos-de-final (era dele a missão principal), a segurança defensiva também foi crucial. Jardel esteve a muito bom nível no lugar de Garay, formando uma dupla intransponível com Luisão. O Zenit foi incapaz de criar uma verdadeira oportunidade de golo na segunda parte (quando atacou mais) e, ironicamente, a melhor situação aconteceu no final do primeiro tempo, minutos antes do golo do Benfica, num lance em que Artur brincou e permitiu um remate perigoso a Shirokov.

No fim, ganhou a melhor a equipa, um Benfica que fica a conhecer o adversário nos quartos-de-final a 16 de Março e que aumenta para 19,2 milhões de euros o encaixe nesta Liga dos Campeões. Nada mau nos tempos que correm.


POSITIVO e NEGATIVO

+


Witsel e Bruno César
Na ausência de Aimar alguém tinha de dar a cara. Witsel e Bruno César assumiram o comando do ataque e construíram as jogadas do golo. Não foram perfeitos, mas foram os melhores.

Maxi Pereira
Merece o destaque pelo golo e porque está sempre em jogo, sejam quais forem as circunstâncias.

Defesa do Benfica
Folha limpa, com Luisão e Jardel em alta.

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Gaitán
Anda desaparecido. A Liga dos Campeões era o seu palco, mas agora nem isso.

Zenit
Milionários com pouca ambição e pouco futebol.
Ficha técnicaBenfica, 2
Zenit de São Petersburgo, 0

Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa.Assistência
Cerca de 45.000 espectadores.

Benfica

Artur, Maxi, Luisão, Jardel, Emerson, Javi García, Witsel, Bruno César, Gaitán (Matic, 72’), Rodrigo (Nolito, 62’) e Cardozo (Nélson Oliveira, 80’).

Treinador

Jorge Jesus.

Zenit

Malafeev, Anyukov l 5’ (Bruno Alves, 53’), Hubocan, Lombaerts, Criscito, Shirokov, Denisov, Semak, Zyryanov (Fayzulin, 71’), Bystrov (Lazovic, 46’) e Kerzhakov. Treinador Luciano Spalletti.

Golos

1-0, por Maxi Pereira, aos 45’+1’; 2-0, por Nélson Oliveira, aos 90’+3’.

Árbitro

Howard Webb, de Inglaterra.

Amarelos

Anyukov (5’), Javi García (15’), Denisov (68’) e Nelson Oliveira (90+3’).

Notícia actualizada às 22h37
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