Ex-Presidente das Maldivas diz ter sido “forçado” a demitir-se

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O Presidente anunciou demissão na terça-feira Foto: AFP

O ex-Presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed, afirmou esta quarta-feira - um dia depois de ter apresentado a sua demissão - ter sido “forçado” a demitir-se por polícias armados e oficiais do Exército durante um golpe de Estado.

Em entrevista telefónica a partir de Malé, a capital daquele arquipélago do Oceano Índico habitado por muçulmanos sunitas, Mohamed Nasheed explicou que ontem de deslocou ao quartel-general do Exército onde se encontrou na presença de 18 polícias e oficiais “de patente intermédia” que controlavam o edifício.

“Eles disseram-me que se eu não me demitisse, eles deveriam fazer uso das suas armas. Eu tomei isso como uma ameaça”, disse o ex-Presidente.

“Eu quis poupar as vidas daqueles que serviam no meu governo”, acrescentou ainda o ex-chefe de Estado, de 44 anos, que falou com a AFP a partir da sua residência familiar.

Mohamed Nasheed expressou ainda a sua preocupação por ter visto o seu sucessor - o vice-Presidente Mohamed Waheed Hassan Manik, a quem foi entregue a gestão do país - no rasto de uma revolta de polícias, dando a entender que terá sido Manik a orquestrar este plano.

“Creio que ele sempre acalentou a ideia de se tornar Presidente. Nunca foi capaz. Quando a oportunidade se apresentou, ele agarrou-a”, disse.

Mohamed Waheed Hassan Manik, antigo funcionário das Nações Unidas, desmentiu já qualquer implicação num golpe de Estado e assegurou que irá manter o Estado de Direito naquele arquipélago conhecido por ser um destino turístico de luxo.

O clima de tensão nas Maldivas tem vindo a agravar-se desde que no mês passado o exército deteve um juiz, acusado de tomar decisões “politicamente motivadas”, incluindo a de libertar um activista da oposição que fora preso sem mandado. Nahseed justificou a decisão de deter o juiz com o argumento de que este era controlado por Maumoon Abdul Gaymoon, ex-Presidente do país.

Ao longo das últimas três semanas repetem-se protestos, cada vez mais intensos, espelhando a luta pelo poder entre Gaymoon – o qual exerceu um regime autocrático durante 30 anos – e o seu sucessor, que assumiu a presidência com as eleições de 2008 e a quem são creditados esforços de reformas no país, incluindo a do primeiro Governo democraticamente eleito.

Desde a ascensão ao poder de Nasheed, um antigo activista dos direitos humanos, as Maldivas têm estado num impasse constitucional, sobretudo porque os partidos que se opõem ao Presidente dominam agora o Parlamento.

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