Presidente das Maldivas demite-se após motim da polícia

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O país está mergulhado numa espiral de tensão social e política há um mês AFP/Haveeru News Service/Ibrahim Faid

O chefe de Estado das Maldivas apresentou a sua demissão, horas após um grupo de polícias amotinados ter tomado o controlo do edifício da televisão estatal do país, mergulhado numa espiral de tensão política há quase um mês.

Num discurso, que foi transmitido pela televisão, Mohamed Nasheed comunicou a sua demissão avançando que entregava o poder nas mãos do vice-presidente, Mohamed Waheed Hassan Manik, e explicando ter decidido que para permanecer na chefia de Estado teria que vir a "usar a força contra o povo".

Antes do anúncio oficial de Nasheed, os polícias amotinados começaram a transmitir mensagens de apoio ao anterior Presidente, Maumoon Abdul Gaymoon. Há relatos de que vários jornalistas foram então detidos dentro do edifício da televisão.

O gabinete presidencial emitira nessa altura um comunicado garantindo que tinham sido tomadas “todas as medidas necessárias para estabilizar a situação” na capital, Malé, onde na véspera houve uma manifestação de apoiantes a Gaymoon – e a qual, segundo testemunhas ouvidas pela BBC, foi dispersada por militares com recurso a gás lacrimogéneo.

Fontes próximas do Presidente precisaram que aquele protesto ocorreu numa zona de alta segurança perto do quartel-general do Exército em Malé. E negaram que as tropas tivessem usado balas de borracha para dispersar a manifestação, à qual vários testemunhos indicam que se juntaram dezenas de polícias recusando obedecer às ordens para ir contra os manifestantes.

O clima de tensão nas Maldivas tem vindo a agravar-se desde que no mês passado o exército deteve um juiz, acusado de tomar decisões “politicamente motivadas”, incluindo a de libertar um activista da oposição que fora preso sem mandado. Nahseed justificou a decisão de deter o juiz com o argumento de que este era controlado por Gaymoon.

Ao longo das últimas três semanas repetem-se protestos, cada vez mais intensos, espelhando a luta pelo poder entre Gaymoon – o qual exerceu um regime autocrático durante 30 anos – e o seu sucessor, que assumiu a presidência com as eleições de 2008 e a quem são creditados esforços de reformas no país, incluindo a do primeiro Governo democraticamente eleito.

Desde a ascensão ao poder de Nasheed, um antigo activista dos direitos humanos, as Maldivas têm estado num impasse constitucional, sobretudo porque os partidos que se opõem ao Presidente dominam agora o Parlamento.

Notícia actualizada às 9h05
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