Drive

Nicolas Winding Refn bem quer recapturar o tempo perdido: pegar nos filmes negros solares e desencantados dos anos 1970, filtrá-los pela sofisticação estilizada e nocturna de Michael Mann e do William Friedkin de “Viver e Morrer em Los Angeles”. O seu herói sem título, impecavelmente encarnado por Ryan Gosling com o carisma no máximo, é à imagem do filme: um fantasma de um cinema que já não existe e que já não é possível recuperar desta maneira, mas em que se continua a acreditar para lá da evidência. É aí que reside a peculiar energia de “Drive”, filme-zombie, assombrado por uma ideia de género que deve tanto a Mann como a Melville ou Peckinpah, mas à qual Refn nunca consegue emprestar uma profundidade que vá para lá da fachada de néon urbano sublinhada pela banda-sonora pulsante de Cliff Martinez. E a queda na ultra-violência da segunda metade do filme desequilibra tragicamente um filme que se compraz de tal modo no elogio do estilo e da maquilhagem vistosa que se reduz a uma simples superfície. Enche a vista e faz um vistão, mas é tudo só fachada.

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