Sócrates justifica-se e diz que ideia de criança é pagar a dívida de uma vez

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"As dívidas dos Estados são por definição eternas", disse Sócrates Foto: Daniel Rocha/arquivo

José Sócrates disse em Poitiers, em Novembro, que "para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança". Esta quarta-feira, fonte próxima do ex-primeiro-ministro explicou ao PÚBLICO que Sócrates apenas se referia ao pagamento da dívida "por inteiro e imediatamente".

Segundo o Correio da Manhã, o ex-chefe de Governo falou do assunto a 3 de Novembro, numa conferência com colegas universitários da Sciences Po, a escola onde estuda Ciência Política, dada a alunos da secção latino-americana. “As dívidas dos países, pelo menos foi o que eu estudei em economia, são por definição eternas. As dívidas gerem-se, foi assim que eu estudei”, afirmou.

Confirmando a ideia, fonte próxima de José Sócrates sublinhou que até os grandes países têm dívidas elevadas, como os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha, que tem 70% de dívida, e a ninguém passa pela cabeça cobrar-lhes a dívida por inteiro e imediatamente. “É ideia de criança pagar uma dívida de um país por inteiro e imediatamente”, frisou a mesma fonte, que falava em nome do ex-primeiro-ministro.

Na palestra, Sócrates respondia a uma pergunta de um colega: "É claro que não podemos deixar [a dívida] crescer muito, porque isso pesa sobre os encargos. Todavia, para um país como Portugal é absolutamente essencial, para a sua modernização e para o seu desenvolvimento, ter financiamento, quer para a modernização das suas infra-estruturas, quer para a modernização das suas políticas, quer para o crescimento da sua economia", concluiu Sócrates.

Sobre a crise europeia, Sócrates considerou “que há uma campanha da direita contra a dívida, há um ódio ao Estado social."

"Nos dois últimos anos, foi o que de pior vi na Europa. São tempos horríveis. A Europa está a andar para trás", afirmou, salientando que está a perder a posição de igualdade que tinha conquistado perante os Estados Unidos, acrescenta o diário.

Confrontado com estas declarações, o presidente da bancada do PS desdramatizou, alegando que o seu ex-líder é uma figura política e um militante socialista. Carlos Zorrinho recusou-se a esclarecer se concordava ou não com o ex-primeiro-ministro socialista.

"José Sócrates é uma figura política, é também um militante do PS e emitiu a sua opinião. Mas não farei outro comentário sobre isso", disse à Lusa.

Por seu lado, o secretário-geral do PS, António José Seguro, recusou-se a comentar declarações que foram proferidas pelo seu antecessor no cargo, alegando desconhecer quer o contexto, quer o teor das posições assumidas por José Sócrates. "Não conheço o nem o contexto nem as declarações proferidas pelo ex-primeiro-ministro e, como tal, não vou fazer qualquer comentário. Não me peçam para fazer um comentário sobre declarações que desconheço", alegou, citado pela Lusa.

Veja o vídeo da conferência com José Sócrates, disponibilizado pela Sciences Po.

Notícia actualizada às 18h58:

Título alterado às 16h15, acrescentada justificação de fonte próxima do ex-primeiro-ministro e declarações de Seguro

Notícia corrigida dia 8/12/2011, às 18h36:

Corrige a localização da conferência de Paris para Poitiers

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