Mundo no Arame

Por alturas de “Martha” ou de “Effi Briest”, Fassbinder (re)dimensionava as manobras de poder nas relações amorosas (como disse numa entrevista: “não há nenhuma relação, de que me recorde, que se possa dizer que é bonita”) a uma escala maior: o indivíduo face a uma corporação, a maior das quais, o Estado, a RFA, que seria denunciado nos futuros “Alemanha no Outono” ou “A Terceira Geração”. “O Mundo no Arame” não foi a primeira, nem a última, experiência televisiva do hiperactivo Fassbinder. Já a incursão na ficção científica - os homens descobrem-se, aqui, “replicants”, versões virtuais - pode fazer figura de coisa inédita. No entanto, é apenas invólucro através do qual o cineasta alemão testa e brinca - o sentido lúdico, como ele dizia, era fundamental à experiência televisiva, perante a qual os espectadores têm uma posição mais passiva, já que as imagens lhes entram em casa. Testa e brinca com motivos já explorados ou a desenvolver em futuros filmes. É por aquilo que se mantém, menos do que pela “curiosidade” de uma realidade virtual em 1973 ser hoje o nosso presente, que este cinema hoje nos emociona e interroga. Por exemplo, pela empatia sensual com aqueles corpos - que, mesmo num argumento de futuro, são os que mais amam e mais perdem.

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