Inquietos

Teremos de esperar para ver se “Milk” fará, ou não, figura de filme decisivo no actual estado da obra de Gus Van Sant - por exemplo, pela forma como o cineasta se colocou no centro de uma “americana” a filmar uma história “alternativa”, ou seja, trabalhando a história da afirmação “gay” como um pedaço central da mitologia americana (isto é, São Francisco, anos 70, como as cidades nos filmes de Frank Capra). É que adolescência e morte estavam já em anteriores incursões do cineasta, com as quais nos proporcionou as suas experiências mais atmosféricas.


Era a morte, o fascínio, a morbidez, o horizonte para as personagens: “Gerry”, “Elephant”, “Last Days”... Convivia-se com..., sentia-se..., mas não se olhava directamente para... a morte. O cinema colocava-se ali, ao lado delas (personagens e morte), para poder bater ao ritmo de uma mesma respiração. Ora, “Inquietos” é já outra coisa: uma forma de enfrentar o pânico e encará-lo de frente. Faz sentido, por isso, que, na sequência de “Milk”, Van Sant tenha escolhido uma forma conciliatória e mais reconhecível, transformando Portland num cenário de filme de género: a “Americana” gótica, com direito a festa de Halloween e tudo.

Uma forma, também, de superar a divisão que marca o seu percurso, de um lado a exploração, o formato “mainstream” do outro - este filme chega-nos como produção de Bryce Dallas Howard e do seu pai, Ron Howard, figuras de um imaginário tipicamente “mainstream”. Filme da ordem da superação, portanto, é um filme de morrer.

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