Cortejo da Latada em Coimbra marcado por forte crítica social

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Activistas da Acampada de Coimbra integraram-se no Cortejo da Latada Adriano Miranda (Arquivo)

Duas dezenas de activistas da Acampada de Coimbra integraram-se nesta terça-feira no Cortejo da Latada dos estudantes para reforçar a crítica social num evento académico este ano muito marcado pelas mensagens de protesto.

O grupo da Acampada incorporou-se no cortejo a meio, entrando não na tradicional Praça D. Dinis, mas na Praça da República. Com a faixa na fronte do grupo onde se podia ler “Ensino Superior público e gratuito”, vários membros empunhavam cartazes de cor parda, contrastando com os garridos dos restantes, ilustrativos das faculdades da universidade.

“Um escravo feliz é o pior inimigo da liberdade”, “Da indignação à acção” e “Respeitem as pessoas, os bancos não” eram algumas das mensagens que ostentavam.

O grupo da Acampada, que desfilava silenciosamente, em contraste com os restantes colegas, ia chamando a atenção a quem nas bermas das ruas assistia ao cortejo.

Uma “doutora dizia” para um acompanhante: “isto não é tradição”. Um jovem, parafraseando a mensagem de um cartaz comentava: “Propinas zero? Então vou para a faculdade”.

Contrariamente ao que anunciaram, o grupo da Acampada não desmobilizou na Praça 8 de Maio, onde habitualmente realizam as assembleias populares, tendo optado por seguir o cortejo, já muito compacto, pelas ruas da Baixa.

O cortejo, que começou cerca de duas horas depois das 15h previstas, foi aberto pela Associação Académica de Coimbra (AAC), com o presidente da Direcção Geral Eduardo Melo a empunhar um cartaz com uma foto do ministro da Educação, Nuno Crato.

Logo a seguir, uma grande faixa negra referia “864 milhões de cortes na Educação”. À volta, seguiam alguns estudantes com uma caixa de “esmolas” ao pescoço.

Embora o ambiente fosse de festa, e os protagonistas os “caloiros” vestidos de forma grotesca e arrastando latas, o cortejo deste ano assumiu um forte pendor crítico, visível, quer em faixas, quer em dizeres inscritos nas próprias vestes.

“Quem quer casar com a carochinha nesta sociedade que se afunda na crise”, perguntavam uma estudante, enquanto outras ostentavam: “Prisioneiras da crise” e “Pipi das propinas altas”.

Num “veículo” da Faculdade de Economia, movido à força motriz de caloiros, formado pela junção de vários carrinhos de compras, e adornado de latas de cerveja e garrafões de vinho, e com vários “doutores” em cima, podia ler-se “Escudo volta, estás perdoado”.

As ‘latadas’ remontam ao século XIX quando os estudantes em Maio exprimiam ruidosamente a sua alegria pelo termo do ano lectivo. Desde os anos 50 passaram a ser realizadas no início do ano lectivo, para festejar a chegada dos “caloiros” à universidade, sendo utilizadas também para alguma crítica social e académica.

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