Maria Helena e o "tudo ou nada" da vida

É uma espécie de ilustradora/fotógrafa. Retrata criaturas "amigáveis" e "melancólicas", "delicadas" e "fortes". Move-se no mesmo limbo que todos nós

Têm muita delicadeza e fragilidade, mas ao mesmo tempo são figuras fortes e melancólicas, diz. Maria Helena
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Têm muita delicadeza e fragilidade, mas ao mesmo tempo são figuras fortes e melancólicas, diz. Maria Helena
Fernando Veludo/nFactos
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Fernando Veludo/nFactos

Gosta de retratar momentos. Fazer parar o tempo com grafite e tinta-da-china. Maria Helena nunca tinha pensado nisso, mas ao longo desta entrevista apercebeu-se: "É como a fotografia, realmente. Que engraçado."

"Instintivamente" acaba sempre por desenhar figuras. À primeira vista, parecem ser criaturas "amigáveis e alegres", mas, depois de um olhar mais atento, há qualquer coisa que perturba. Serão as olheiras daquela mulher? Aquele jarro de flores que torna tudo mais triste? "São trabalhos que têm muita delicadeza e fragilidade, mas ao mesmo tempo são figuras fortes e melancólicas. Gosto disso, gosto dessa ambiguidade."

O tempo é algo que a inspira. Não a chuva ou o sol, mas a ideia de "impermanência", de "memória". Quer que os seus trabalhos tenham mistério, não sejam demasiado "ilustrativos". Maria Helena hesita. Interrompe-se e atropela-se. "É um bocado difícil descrever. Às vezes nem penso muito."

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Quando era pequena, preenchia cadernos inteiros com colecções de moda fictícias Fernando Veludo/nFactos

Consome muita coisa, desde trabalhos de outros ilustradores a filmes ou músicas. Daí vêm muitas das ideias para ilustrações. Um dia lembrou-se daqueles "bilhetinhos que se trocavam na escola" para pedir alguém em namoro. Decidiu explorar essas situações, em que se "abre o coração", em que é "tudo ou nada". Nascia "Heartbreakers", exposição que apresentou na Ó! Galeria, e onde integrou pela primeira vez texto.

Dos catálogos de moda ao "freelancer" 

Fazer sempre trabalho pessoal é um dos conselhos da ilustradora para os freelancers

Hoje Maria Helena trabalha numa das maiores empresas portuguesas no sector do retalho de moda, mas nem sempre foi assim. Desenha desde pequena. Conta-lhe a mãe que preenchia cadernos inteiros com colecções de moda fictícias, metodicamente catalogadas para cada estação. Pensou ser estilista, mas as agulhas e as tesouras eram-lhe hostis. Foi para design gráfico na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), onde começou a usar ilustração em grande parte dos trabalhos curriculares.

Maria Helena nota uma atenção maior sobre a ilustração em Portugal e no mundo

Depois de um estágio no Centro Português de Design, entrou para uma multinacional chinesa, da qual saiu, quatro anos depois, quando fecharam o gabinete de design. Foi "freelancer" durante mais de dois anos (também ela integrou a "nova Revolução Industrial").

Na altura criou com João Bento Soares, também ele ilustrador, a twodotwo, um estúdio de comunicação multidisciplinar que continua em funcionamento. Entre outras coisas, desenhou a capa do EP dos ALTO! e criou a embalagem de uma caixinha de música que acabaria por aparecer num livro.

"É a magia da internet", confessa. Este foi um dos vários trabalhos que já arranjou por contactos puramente virtuais. "Uma boa divulgação online ajuda imenso. É um trabalho ingrato, implica passar horas na internet e os frutos vêm mais tarde, mas há sempre um dia em que as coisas começam a mudar." As lojas online Bigcartel e Etsy e, claro, o Facebook são alguns dos meios online que destaca.

Os trabalhos de Maria Helena podem ser vistos ao vivo e a cores na Ó!. 

Artigo corrigido e actualizado às 18h29

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