"Aqui a ilustração não tem uma fórmula"

Light ou grotesca? Profunda ou MTV? A ilustração do Porto anda à procura de uma identidade

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Nuno Sousa aponta duas correntes Fernando Veludo/nFactos

Se a pergunta é “a ilustração no Porto tem um estilo?”, a resposta é de múltipla escolha. a) hmmmm b) só um? c) lá chegará. Os jovens autores são permeáveis e light, são profundos, grotescos e auto-narrativos, diluem-se em vários territórios, mas assumem uma forte herança cultural e académica.

Quando fala do Porto, o ilustrador Júlio Dolbeth gosta de recuperar o termo "lowbrow", o movimento underground que no final dos anos 70 colocou no mesmo saco a pop art, os brinquedos, a música punk, a arte digital, o humor e a banda desenhada. “O Porto”, diz um dos fundadores da Dama Aflita, “é essa ironia diluída, essa pervasive art”.

Se existe uma alta arte e uma baixa arte, falamos declaradamente da segunda. “Estamos mais atentos a esse tipo de movimento, vemos muitas pessoas a trabalhar dentro desse registo. Aqui a ilustração não tem uma fórmula nem tem limites muito bem definidos".

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Júlio Dolbeth recorda o movimento lowbrow Fernando Veludo/nFactos

"Tem a ver com tu fazeres os teus diários gráficos, de repente fazes uma ilustração para um artigo no jornal ou uma peça escultórica. Há muitos autores que vêm do 'grafitti' e da 'street art'. E muitos dos autores novos são muito permeáveis às tendências e ainda não se consegue perceber muito bem o seu registo gráfico”.

O Porto é um pouco lowbrow, diz Júlio Dolbeth

Com ou sem algemas?

A ilustração subterrânea, segundo Nuno Sousa

É tão difícil definir um único estilo na ilustração portuense como algemá-la. Nuno Sousa, autor do blogue Sorvedouro, arrisca duas correntes. “Existe uma mais MTV, mais fashion design relacionada com objectos de culto, imagens infantilizadas e muitas vezes esvaziadas do seu sentido. E depois há uma maneira muito mais subterrânea de pessoas que utilizam o desenho para pensar com mais profundidade, um trabalho pessoal, um trabalho autobiográfico, um trabalho artístico, mais próximo da literatura e da produção de discurso das artes plásticas”.

Compro estas calças ou compro este desenho?

Dolbeth sente que “há uma necessidade de definir o território” da ilustração, essa “coisa ampla”. “Vejo que há influências muito fortes daquilo que acontece no mundo inteiro”, completa.

Nuno Sousa agarra-se a uma das pontas do novelo “que se vai fazendo sem ter um programa”. A cidade tem uma “herança cultural”, uma “relação com o desenho” e “valoriza o desenho enquanto área disciplinar” (culpa das faculdades de Belas Artes e de Arquitectura da UP). Esse é o denominador comum.

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