Geração "canguru" quer cama, mesa e roupa lavada

Jovens adultos vão adiando a saída de casa dos pais até cada vez mais tarde. Com a crise, a geração canguru veio para ficar

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A geração canguru mantém-se na casa dos pais para ter conforto físico e emocional Paulo Pimenta

É um fenómeno que está a ganhar expressão no mundo Ocidental, e muito especialmente nos países do sul da Europa, Portugal incluído. Os jovens adultos vão adiando a saída de casa dos pais até cada vez mais tarde. Seja porque estão cómodos e não vêem desvantagens, seja porque são trabalhadores precários ou não encontram trabalho. Com a crise, a “geração canguru” está para ficar.

No Reino Unido estes jovens que ficam em casa dos pais até bem depois dos 30 anos são apelidados de "mummy boys" e em Itália de "mamona". Qualquer coisa como “filhinhos da mamã”. Estima-se que em Itália cerca de 70 por cento de homens (e cerca de 35 por cento de mulheres) com 29 anos vivem com os pais.

O fenómeno não é novo. Em França estes jovens que vão adiando a saída do ninho materno dão pelo nome de “geração Tanguy”. O nome caiu no goto dos franceses na viragem do século depois da estreia de um filme chamado “Tanguy”, o nome de um jovem adulto de 28 anos que se arrasta - de forma egoísta e mimada - pela casa materna até que os pais se unem para o expulsar.

Conforto físico e emocional  

Genericamente em Portugal costuma-se designar esta juventude que adia a sua emancipação por “geração canguru”; aquela que se mantém dentro da bolsa marsupial representada pelo conforto físico e emocional de casa dos pais até idades tardias.

Há vários motivos para os jovens se arrastarem pela casa paterna até aos 30 anos (e mais). Antes de mais porque estão confortáveis e porque sabem que podem contar com o apoio emocional e financeiro dos pais. Têm “roupa, mesa e cama lavada”. Se, paralelamente, os jovens têm pais pouco intrusivos e ainda conseguem ter uma fonte de rendimento, esta situação pode arrastar-se durante anos.

Manuel Peixoto, terapeuta familiar e de casal, enumera os vários motivos que poderão estar por detrás desta opção de vida: “Em primeiro lugar é preciso assinalar que a fase da adolescência se prolonga até mais tarde e, por outro, que os pais mantêm a vida activa e têm maior longevidade. Não havendo grandes pressões, as coisas vão-se arrastando, naturalmente. Por outro lado, a fase de estudos também se prolonga [os jovens fazem mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos] e há muitos jovens que, depois dos estudos, não arranjam emprego”.

Fenómeno em expansão

Se juntarmos a estes factores a actual crise económica, a precariedade laboral entre os mais jovens [a “geração à rasca”] e o facto de os pais portugueses tolerarem bem esta situação, sem grandes exigências, isso ajuda a explicar que o fenómeno esteja a aumentar também em Portugal.

Estas situações são, aliás, mais comuns nos países do sul da Europa. Porquê? “Porque somos mais pobres”, responde Manuel Peixoto. “Nos países do Norte da Europa, a regra é que os jovens saíam todos de casa aos 18 anos. Nos países Mediterrânicos a noção de família é muito mais forte. São resquícios de uma sociedade pouco desenvolvida na qual há grande necessidade de uma rede de apoio familiar”.

Perante esta perpetuação dos filhos no lar paterno, os pais têm sentimentos ambivalentes. Por um lado entendem que o ciclo natural da vida é que os filhos de tornem independentes e estabeleçam as suas próprias famílias, mas por outro lado, egoisticamente, ficam felizes por manterem os filhos em casa.

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