O melhor de Portugal contra o melhor do mundo

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Vítor Pereira diz que o FC Porto não veio ao Mónaco para "ver o Barcelona jogar" Foto: Sebastien Nogier/AFP

FC Porto e Barcelona ganharam quase tudo na época passada e neste ano já têm as Supertaças nacionais. Hoje se verá se o equilíbrio é mera aparência.

A 16 de Novembro de 2003, um jovem franzino de 16 anos estreou-se pela equipa principal do Barcelona, convidado do FC Porto para o primeiro jogo no Estádio do Dragão. Não havia títulos em jogo e o treinador da altura, Frank Rijkaard, chamara alguns jogadores dos escalões de formação para formar uma equipa. Um deles era esse jovem de 16 anos chamado Lionel Andrés Messi, alguém que o mundo do futebol ainda não conhecia. Hoje, no Mónaco, Messi e o FC Porto reencontram-se, mas desta vez já vai haver qualquer coisa em jogo. E o argentino já não é apenas mais um jovem promissor. É o melhor do mundo.

Será no Stade Louis II, em plena Cote d"Azur, numa terra que já teve Grace Kelly como princesa, que Barcelona e FC Porto vão disputar a Supertaça europeia, um direito que conquistaram por terem ganho, respectivamente, a Liga dos Campeões e a Liga Europa. Eles são a realeza do futebol europeu e das equipas com mais títulos conquistados na última década, tanto a nível continental como nos seus próprios países. E há quem diga que até são equipas parecidas no estilo, que gostam de jogar ao ataque, que gostam de pressionar e de ter a bola. Um jornalista perguntou mesmo a Hélton, guarda-redes do FC Porto, como é que ia ser no jogo de hoje, em que não vai haver uma bola para cada uma das equipas. "Só pode haver uma bola", respondeu o guardião brasileiro.

Parece mesmo haver uma admiração mútua entre as duas equipas, reverência até. Não se ouve coisas assim de Barcelona quando tem de defrontar o Real Madrid, ou do FC Porto quando joga com o Benfica. Pep Guardiola referiu-se ao FC Porto como "uma das melhores equipas do mundo" - "é sempre um prazer jogar contra grandes equipas", acrescentou o catalão -, enquanto Vítor Pereira foi mais longe: "O Barcelona é a equipa que melhor vi jogar na minha vida."

Herança de Villas-Boas

Esta vai ser a quarta vez que o FC Porto está numa Supertaça europeia e a terceira que disputa este título sem o treinador que conquistara o troféu na temporada anterior. Em 1987, os portistas tinham Tomislav Ivic no banco contra o Ajax (vitórias por 1-0 em ambos os jogos, naquele que foi o único sucesso do clube nesta competição), depois de Artur Jorge, o treinador campeão em Viena, ter ido para o Matra Racing.

O jogo de 2003 frente ao AC Milan (derrota por 1-0) foi a excepção. José Mourinho conquistou a Taça UEFA e continuou no FC Porto por mais uma época, onde conquistaria a Liga dos Campeões, mas já não foi ao Mónaco, depois de se ter transferido para Chelsea. Quem estava no banco portista era o espanhol Victor Fernandéz e não evitou a derrota frente ao Valência por 2-1. Em 2011, Vítor Pereira vai defender a herança de André Villas-Boas, triunfante na Liga Europa frente ao Sp. Braga, que, tal como Mourinho, também fugiu para o Chelsea.

Uma herança que também é um pouco dele, já que Pereira foi o adjunto do actual técnico do Chelsea na época em que o FC Porto ganhou quase tudo. Mudou o treinador, mas, reforça Pereira, que já ganhou a Supertaça portuguesa como técnico principal, a equipa não mudou, e nem vai mudar só porque o adversário se chama Barcelona e parece ser imbatível. "O FC Porto será igual a si próprio. Temos trabalhado em 4x3x3, é natural que amanhã [hoje] a estrutura seja a mesma. Vamos procurar ser a equipa que sempre fomos. Não viemos para ver o Barcelona jogar", observa o técnico portista, frisando que Leo Messi não irá ter marcação especial: "O Messi não se pára com coisas especiais, pára-se com o colectivo forte, com o antecipar de intenções. Não tenho, nem sou apologista de qualquer marcação especial."

Guardiola, pelo contrário, está mais que habituado a jogos decisivos e a ganhá-los. Desde que chegou ao Barcelona como um treinador novato, já conquistou 11 títulos, o último dos quais a Supertaça espanhola frente ao Real Madrid. O que para qualquer outro seria considerado uma rotina, para Pep andar em muitas finais é uma forma de renovar a ambição e a motivação.

"Uma final é um momento único. Temos de aproveitar, sofrer e saber que vai custar muito", diz o catalão. Seja com o Manchester United, derrotado na final da Champions, seja com o Real, que ainda não chegou ao nível do Barça, seja com o FC Porto, que hoje se vai testar frente àqueles de quem se diz ser a melhor equipa de sempre. Ou seja, se o FC Porto vencer este Barcelona, é um triunfo para valer mais que uma "simples" Supertaça europeia. É entrada garantida para a história.

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