IPO de Lisboa acusado de má gestão com equipamentos de radioterapia

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A administração do IPO afirma que os pacientes tiveram sempre acesso aos tratamentos de radioterapia Daniel Rocha

Má gestão de concurso público, passividade perante um problema grave, falta de controlo, são apenas alguns dos aspectos apontados pelo Tribunal de Contas à administração do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil, de Lisboa (IPOFGL), por ter feito um mau negócio com duas máquinas de radioterapia e de ter lesado com isso o erário público e os pacientes.

O caso, divulgado hoje numa notícia do diário i, remonta a 2004, altura em que o IPO Lisboa lançou um concurso público para a compra e instalação de dois aceleradores lineares – dois aparelhos para tratamentos de radioterapia - avaliados em mais de quatro milhões de euros.

Um dos aparelhos ainda funcionou. Mas cedo acabou por ser desactivado para avaliação da protecção radiológica. O segundo acabou por nunca funcionar.

“Constatou-se que foram os actos de gestão do conselho de administração do IPOLFG, de 2005 até à presente data, que afectaram a celeridade do processo de aquisição e instalação dos dois aceleradores lineares e o consequente aumento dos custos com a subcontratação externa de prestações de cuidados de radioterapia”, conclui o relatório do Tribunal de contas que analisou à lupa o caso numa auditoria às aquisições de bens e serviços do IPO.

“Desde 2006 que as sucessivas derrapagens no cumprimento dos prazos previstos para a instalação e entrada em produção de dois novos aceleradores lineares tiveram um impacto negativo ao nível da capacidade instalada do IPOLFG nos tratamentos de radioterapia, que implicou o aumento do número de doentes reencaminhados para tratamentos em entidades privadas”, acrescenta o relatório do TC, que calcula que os custos acrescidos para o erário público por este problema superam os três milhões de euros, ou seja, quase o valor de mais dois equipamentos deste género. E acrescenta que o IPO “desconhecia totalmente os custos” que resultaram da situação e que acusa as instituições privadas de lhes ter imposto preços.

O relatório elogia ainda o processo semelhante conduzido em Coimbra, onde também foram adquiridos dois destes equipamentos de radioterapia. E no IPO do Porto o então primeiro-ministro José Sócrates inaugurou em Março a maior unidade de radioterapia da Península Ibérica capaz de responder a 80 mil sessões anuais.

Em resposta às críticas do relatório do Tribunal de Contas, a administração do IPO de Lisboa emitiu um comunicado a dizer que a construção do bunker para instalação do segundo aparelho foi interrompida por falência da empresa e que o material não instalado não chegou a ser pago, uma vez que se tratava de um contrato chave-na-mão, ou seja, a empresa entregaria o dispositivo pronto a funcionar. E afirma que o caso não foi abandonado e que o segundo aparelho estará operacional em Agosto deste ano.

Na nota, assinada por Francisco Matoso, presidente do Conselho de Administração do IPO de Lisboa, a instituição afirma que tentou, desde que este problema surgiu, garantir sempre aos doentes os cuidados de saúde mais avançados “em condições de segurança e de normalidade”.

Num estudo de 2009, o Alto Comissariado da Saúde alertava para a urgência de substituição de equipamentos de radioterapia e de aumento da oferta neste tipo de tratamentos necessários em 50 a 60 por cento dos casos de pacientes diagnosticados com cancro.

O relatório recomendava a substituição imediata de 15 equipamentos de radioterapia e duplicação do número de aparelhos e de profissionais que trabalham nesta área e traçava uma estratégia que previa a dotação dos centros, até 2020, com 64 unidades de radioterapia externas (havia então apenas 35 aceleradores lineares) e um plano de formação que garantisse pelo menos a duplicação dos profissionais em exercício. Existiam então 68 médicos nos centros que fazem radioterapia, prevendo o documento que eram necessários 140. E existiam 232 técnicos, quando seriam necessários 558.

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