Reavivar os centros das cidades

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Mariana e Joana Pestana Foto: Pedro Cunha

Para as irmãs Pestana, um marco das cidades que está a desaparecer é a mercearia. "Víamos que se estava a perder este património cultural que achamos fundamental na vida das cidades", explica Joana, com 25 anos, a mais nova, designer, que vive entre o Porto e Viseu. A iniciativa Faz - Ideias de Origem Portuguesa das fundações Calouste Gulbenkian e Talento permitiu fazê-lo, acrescenta Mariana, de 29 anos, que vive em Londres, onde é arquitecta. O projecto chama-se A Mercearia e é um dos dez concorrentes ao prémio de 50 mil euros para o pôr em prática.

"Achamos que é o momento ideal para apresentar a nossa ideia", defende a irmã mais velha justificando o porquê: "é uma altura em que se está a fazer uma reabilitação urbana, no centro e na Baixa das cidades". As irmãs sentem que o repovoamento das cidades é "essencial", como é também preservar as mercearias, "tão características do comércio tradicional".

Uma mercearia é mais do que uma simples loja de conveniência no fundo da rua. "Há uma relação de proximidade que só este estabelecimento consegue criar com as pessoas que aqui vivem", diz Mariana. A mercearia detém também um elevado poder de inclusão social, já que o proprietário consegue acompanhar gerações de clientes que passam à sua porta.

"Queremos actuar na mercearia ao nível do funcionamento", promovendo a relação com os produtores locais e inserindo produtos locais e típicos da região, explicam. Mas a inovação prende-se sobretudo com a imagem da mercearia, ao nível da arquitectura do espaço e da "identidade visual", conservando sempre o seu "carácter único". Portanto, no caso de um sucesso na fase-piloto, o que as duas irmãs esperam, "de corpo e alma", é que o projecto se vá expandir a nível nacional, mas "não com uma única solução para todas as mercearias", precisa Joana. "Cada mercearia precisa do seu estudo, para nunca se perder o seu carácter único". Poderiam assim formar uma rede de mercearias, com encontros entre os vários donos, para que possam "discutir os seus conhecimentos, as suas práticas e partilhar experiências".

O principal objectivo desta rede tem um cariz económico: como lutar e competir com os preços das grandes superfícies? Para Joana e Mariana, este é o grande problema das mercearias e a causa da sua queda, já que os proprietários das mercearias não souberam "renovar a sua imagem, produtos e interacção com os clientes" face à emergência destes gigantes. "Queremos combater este obstáculo, para que a mercearia volte a estar activa na cidade".

A primeira dificuldade apontada é encontrar apoios financeiros para a ideia, "alguém que acredite neste projecto tanto como nós as duas". De seguida, os comerciantes e produtores poderão eventualmente pôr alguns entraves ao projecto A Mercearia. "Temos de convencer o comerciante dos benefícios que esta ideia poderá trazer para o negócio".

Caso não sejam as vencedoras do prémio de 50 mil euros para o futuro acompanhamento na execução do projecto, as irmãs Pestana querem seguir em frente com A Mercearia. "Já nos dedicámos tanto a este projecto, não vai ser agora que o vamos abandonar", com ou sem financiamento, dizem. "Se não ganharmos, haveremos de encontrar alguém que acredite em nós e na ideia, e nos ajude, claro!"

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