EUA publicam na íntegra documentos sobre guerra do Vietname

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Guerra do Vietname durou 16 anos Vietnam News Agency/Reuters

Os famosos “Pentagon Papers”, um conjunto de documentos do governo norte-americano sobre a guerra do Vietname, foram ontem publicados integralmente pela primeira vez. A divulgação integral acontece 40 anos depois de terem sido revelados excertos destes documentos secretos.

Apenas onze palavras em sete mil folhas, segundo o jornal “El País”, estão riscadas e permanecerão desconhecidas para o grande público.

Em 1971, um analista de informação do Pentágono, Daniel Ellsberg, fotocopiou e passou ao “New York Times” um documento secreto de 14 mil páginas que expunha a política norte-americana no Vietname. O governo de Richard Nixon, embaraçado com a publicação dos documentos, primeiro no “New York Times” e depois no “The Washington Post”, tentou impedir a publicação mas o Supremo Tribunal de Justiça declarou que essa ordem era inconstitucional.

Ontem, e quatro décadas depois de Ellsberg ter passado a informação ao jornal norte-americano, todas as páginas foram divulgadas em conjunto e confirmou-se o que já antes se avançara: duas administrações distintas dos EUA mentiram aos seus cidadãos sobre a guerra do Vietname.

De acordo com as informações contidas no estudo, tanto a administração de John Kennedy como a de Lyndon Johnson, enganaram a opinião pública sobre a guerra do Vietname, desde os ataques do Golfo de Tonquim até ao bombardeio de Cambodja e Laos, passando pelas declarações de Johnson em 1964 que asseguravam que se estava a preparar uma saída para o conflito, quando na verdade se preparava uma escalada.

Ellsberg, que durante dois anos trabalhou na embaixada dos EUA, no Vietname, sabia que era impossível os EUA ganharem aquele conflito e acabou por concluir que a única forma de fazer reagir a sociedade e a Casa Branca era tornar públicos os documentos que o Pentágono preparara durante anos e que oficialmente foram designados de “Estados Unidos – Relações com o Vietname, 1945-1967: Um estudo preparado pelo Departamento de Defesa”.

Para Ellsberg o estudo nunca deveria ter sido mantido secreto, nem mesmo em 1971. “As razões [para o secretismo] são claramente de política interna, não de segurança nacional”, disse o analista ao “The New York Times”. “As razões para o sigilo prolongado estão ligadas ao facto de a formulação de políticas não consentir exame público. É vergonhoso, ou até mesmo incriminatório”, acrescentou.

Os “Papéis do Pentágono”, na época da fotocopiadora, são actualmente vistos como os antecessores da Wikileaks, na era da Internet.

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