Banksy

Como é que um artista que ninguém sabe quem é, que ninguém alguma vez conseguiu capturar em imagem sem estar mascarado, faz um filme que sem ninguém dar por nada é um pequeno milagre. Pior: que "Pinta a Parede!", assinado por um artista que é um dos grandes manipuladores da cultura moderna, seja anunciado como um documentário deixa desde logo a pulga atrás da orelha. Mas e se a manipulação consistisse em sugerir que ela existe sem existir realmente? A hora e meia que se segue metamorfoseia-se de documentário sobre a evolução da "street art" em meditação sociocultural sobre o modo como o significado e o valor da "arte" depende cada vez menos do olhar da sociedade e cada vez mais da atenção mediática, através de uma estrutura "contado ninguém acredita", como quem diz que quase sempre a realidade pode ser mais estranha do que a ficção. "Pinta a Parede!" é algo de raro e inexplicável: um documentário que se vê como uma comédia e onde nunca percebemos o que é verdade e o que é ficção, um filme em constante estado de fluxo cujas mudanças de tom, estilo e género nos surpreendem e deliciam constantemente. Como é que alguém que nunca fez cinema na vida (ou será que fez?) acerta na mouche deste modo, estimulante, provocador, inteligente, logo ao primeiro ensaio?

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