Aurora

Cristi Puiu deu o tiro de partida para a "nova vaga romena" com o soberbo "A Morte do Sr. Lazarescu" e relança os dados com "Aurora", uma experiência-limite de três horas que acompanham dois dias na vida de um homem que já não suporta mais o limbo em que a sua vida se tornou. O próprio realizador interpreta Viorel, testemunha passiva da sua própria vida, incapaz de retomar o controle da espiral descendente em que se deixou enredar a não ser por actos radicais de violência quase inexplicável. E o filme segue-o nesse radicalismo, alimenta-se dessas explosões de violência incontida, verbais ou físicas, transpondo para o espectador a claustrofobia e a angústia de Viorel. Aqui não encontramos traço da sátira escarninha ou do absurdo kafkiano do "sr. Lazarescu"; apenas o desespero negro e embargado de uma tragédia anunciada, que se oferece ao espectador como o monólito de "2001" de Kubrick, compacto, coeso, enigmático, impenetrável. Duríssimo, mas fascinante.

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