“Apanhámo-lo”, disse Obama

Um dos momentos mais tensos da presidência de Barack Obama
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Um dos momentos mais tensos da presidência de Barack Obama Foto: Pete Souza/Casa Branca/Reuters
Nas Filipinas, uma mulher lê a notícia da morte de Bin Laden
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Nas Filipinas, uma mulher lê a notícia da morte de Bin Laden Foto: Romeo Ranoco/Reuters
Uma das manifestações pelo mundo de celebração da morte de Bin Laden, aqui na Índia
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Uma das manifestações pelo mundo de celebração da morte de Bin Laden, aqui na Índia Foto: Adnan Abidi/Reuters
Junto ao Ground Zero, onde existiam as Torres Gémeas, familiares das vítimas do atentado deixaram várias mensagens
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Junto ao Ground Zero, onde existiam as Torres Gémeas, familiares das vítimas do atentado deixaram várias mensagens Foto: Andrew Kelly/Reuters
Militares norte-americanos assistem no Afeganistão às últimas notícias sobre Bin Laden
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Militares norte-americanos assistem no Afeganistão às últimas notícias sobre Bin Laden Foto: Lucas Jackson/Reuters
As primeiras páginas dos jornais de quase todo o mundo têm hoje Bin Laden na capa
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As primeiras páginas dos jornais de quase todo o mundo têm hoje Bin Laden na capa Foto: Mohsin Raza/Reuters

Segunda-feira à noite, enquanto a Casa Branca disponibilizava fotografias que mostram o presidente Obama e os seus principais conselheiros seguindo a operação que matou Osama bin Laden no domingo, novos detalhes emergiram na imprensa americana sobre o que se passou durante essas horas dentro da Casa Branca – quando o resto do mundo nem suspeitava que a caça ao homem mais procurado pelos EUA estava a chegar ao fim.

Foram 40 minutos de tensão dentro da Situation Room, a sala de conferência na cave da Casa Branca reservada para as grandes crises e grandes decisões. “Foi provavelmente um dos momentos de maior ansiedade nas vidas das pessoas que se juntaram aqui [Casa Branca] no domingo”, disse ontem um dos presentes, John Brennan, conselheiro principal de Obama em questões de contraterrorismo. “Os minutos passaram como se fossem dias.”

Descrevendo o ambiente dentro da sala onde Obama, o vice-presidente Joe Biden, a secretária de Estado Hillary Clinton, o chefe do Pentágono Robert Gates, e membros da cúpula das forças armadas e serviços secretos americanos acompanhavam a operação em tempo real, Brennan disse que grande parte do tempo foi passado em silêncio, com “muitas pessoas sustendo a respiração”. Uma das fotografias tiradas pelo fotógrafo oficial da Casa Branca, Pete Souza, e ontem divulgadas, parece cristalizar essa tensão. O canal americano MSNBC chegou mesmo a ampliar os rostos das pessoas ontem à noite como prova: o de Obama é todo rigidez; Hillary Clinton cobre a boca com a mão, como que transida. A imagem dos papéis em cima da mesa, de natureza confidencial, foi manipulada para impedir a sua compreensão.

Como um jogo de vídeo

Não é claro o que é que o presidente americano e a sua equipa observavam nesse momento. Segundo o New York Times, o chefe da CIA, Leon Panetta, narrou por videoconferência a operação enquanto ela decorria no Paquistão. Mas tanto a revista Time como a Reuters indicaram que a Casa Branca estava a acompanhar a operação directamente. Os Navy Seals – membros das forças especiais da Marinha americana – que conduziram a acção estão equipados com capacetes que trazem câmaras incorporadas e transmitem som e imagem para os seus centros de operação, nota a Reuters. Esses elementos podem ser retransmitidos em tempo real para a Casa Branca e Pentágono. Segundo a Time, a tecnologia “permite a um presidente experienciar as suas acções militares como um jogo de vídeo, excepto que não tem qualquer controlo sobre os acontecimentos”.

Contradições oficiais

Setenta e nove Navy Seals em quatro helicópteros – segundo o New York Times – desceram sobre o complexo onde Bin Laden se encontrava, em Abbottabad. Quando um helicóptero avariou, a tensão subiu na Casa Branca, receando que o incidente pudesse comprometer toda a operação. Ouviram-se tiros. A CNN citou uma fonte da administração ontem à noite corrigindo os relatos iniciais de que Bin Laden fora alvejado na cabeça: ele foi atingido duas vezes, primeiro no peito e depois na cabeça. A mesma fonte indicou que Osama bin Laden não se encontrava armado no momento nem disparou qualquer tiro – apesar de ontem à tarde John Brennan ter afirmado que os EUA o teriam capturado vivo se ele não tivesse oferecido resistência.

Ontem, emergiram algumas contradições nos relatos originados por diferentes elementos da administração americana. Apesar de haver a indicação inicial de que uma das vítimas era uma das mulheres de Bin Laden, que teria servido de escudo humano durante o ataque, uma fonte da Casa Branca corrigiu a informação na segunda-feira à noite: ela não era mulher do líder da Al Qaeda, nem serviu de escudo.

Nome de código: Geronimo

De acordo com o New York Times, um membro dos Navy Seals tirou uma fotografia ao corpo de Bin Laden e enviou-o para analistas que submeteram a imagem a um programa de reconhecimento facial. O nome de código de Bin Laden era Geronimo. A mensagem chegou à Situation Room: “Geronimo EKIA”, iniciais (em inglês) de Inimigo Morto Em Acção. Fez-se silêncio na Casa Branca, descreve o New York Times, como se tivesse sido a mosca na sala. Qual foi a reacção do presidente americano quando teve a certeza que Bin Laden estava morto? “We got him.” “Apanhámo-lo”, revelou Brennan.

Havia mais razões para ansiedade na Casa Branca do que a avaria do helicóptero. O grupo dentro da sala tinha opiniões diferentes sobre a operação. Antes de Obama tomar a decisão de um ataque por helicóptero, na sexta-feira, John Brennan e o director da CIA defenderam um assalto terrestre. Outros pediram mais tempo, segundo a Time.

Por outro lado, “o presidente estava muito preocupado com a segurança” dos comandos no terreno, explicou Brennan. “Isso esteve sempre no seu pensamento.” E, ainda havia a possibilidade de o alvo não ser, na realidade, Bin Laden, o inimigo número um da América.

E pensar que nessa manhã Obama teve tempo – e serenidade – para jogar golfe.

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