Dominar, desperdiçar e depois sofrer e sofrer
Foi uma eliminatória tirada a ferros por um FC Porto que foi mais competente em todos os domínios menos no da eficácia. Acabou com o credo na boca frente a um Sevilha que, na segunda parte, marcou um golo por Luís Fabiano e depois meteu todos os avançados que tinha trazido da Andaluzia. Acabaram por prevalecer os dois golos marcados pela equipa portuguesa em Sevilha e o FC Porto irá agora defrontar o CSKA de Moscovo nos oitavos-de-final da Liga Europa.
No jogo da primeira mão, o FC Porto tinha conseguido um resultado que foi melhor do que a exibição. Criou três oportunidades e marcou dois golos, num confronto em que os sevilhanos só aproveitaram uma das oito boas situações que criaram. Esta quarta-feira, mais do que o inverso, aconteceu algo de verdadeiramente raro, com o FC Porto a ter um desperdício absolutamente escandaloso. Na primeira parte, foi compacto e criou e desperdiçou quatro boas chances. No segundo tempo, principalmente na fase mais louca do jogo, em que tinha de lidar com um adversário a jogar no risco máximo e com uma defesa de apenas três homens, o FC Porto teve mais de dez oportunidades para bater o guarda-redes Varas, inesperadamente transformado na grande figura do jogo.
O jogo acabou por dar razão a André Villas-Boas, quando alertou para a necessidade de não se considerar a eliminatória prematuramente decidida. Isto em função da qualidade do plantel sevilhano, que custa mais do dobro do orçamento do FC Porto. A 31 pontos do líder Barcelona na liga espanhola, em sérios riscos de falhar o apuramento para a Champions, que era o seu grande objectivo, e já afastado da Taça do Rei, o Sevilha tinha colocado todas as suas fichas na Liga Europa.
O rastilho inicial do Sevilha durou dez minutos, período inicial em que se viu um jogo vivo e intenso e uma boa oportunidade desperdiçada por Kanouté, após assistência de Negredo, que surgiu no lugar de Luís Fabiano. A partir daí, o FC Porto fez um exercício muito profissional, tomando primeiro o controlo do jogo, à custa de um triângulo no miolo que levava sistematicamente a melhor sobre Zokora (voltou à equipa, deixando de fora o chileno Medel) e Rakitic. Belluschi começou então a mostrar todo o seu reportório, enquanto as transições rápidas funcionavam em função de Hulk, que por várias vezes instalou o caos na defesa andaluza, voltando a ficar provado que é um jogador claramente mais desequilibrante quando não tem de fazer de Falcao, finalmente de regresso e autor de uma bola à barra.
A segunda parte recomeçou com uma ameaça de Negredo, mas tudo voltou de imediato à normalidade, com o FC Porto sempre mais sólido, mas a criar e... a desperdiçar. Gregório Manzano decidiu então que era a hora de arriscar, meteu Luís Fabiano e assumiu uma defesa com apenas três homens. E o ex-portista foi, finalmente, feliz no Dragão, precisando de apenas 15 minutos para marcar, num lance em que foi bem assistido por Negredo e beneficiou da falta de ritmo do também regressado Álvaro Pereira. No minuto seguinte, o lateral portista viu o segundo amarelo e Vilas-Boas recompôs a organização com as entradas de Sapunaru e Guarín para os lugares de Moutinho e Falcao (Fucile passou para a esquerda). Foram apenas cinco minutos em inferioridade numérica, porque, logo a seguir, Alexis também foi expulso.
Com apenas dois verdadeiros defesas em campo, o Sevilha passou por uma série de situações aflitivas, principalmente após meter mais um avançado (Rodri). Os sevilhanos massacravam, massacravam, mas quem estava sempre mais perto de marcar eram Varela, Guarín e Hulk, que só à sua conta podia ter enchido o saco. O FC Porto aguentou e passou, mas já vai na terceira derrota em 2011, todas no Dragão...
POSITIVO e NEGATIVO
+
Belluschi
O argentino encheu o campo. Naquele jeito em que parece estar a fazer tricot, esboçou um sem número de boas jogadas e surgiu na área adversária quando as circunstâncias o permitiam. Mas fez mais do que isso. Foi essencial no trabalho defensivo, ficando principalmente na retina um corte providencial na área de Helton.
Otamendi e Fernando
O central argentino não é muito alto, mas tem garra para dar e vender, raramente perdendo um lance. Cortou inúmeros lances perigoso e ainda fez alguns lançamentos certeiros. O brasileiro é hoje um pivot defensivo dotado de qualidades raras. Porque já não se limita a destruir, sendo também precioso na fase de construção.
Kanouté
Começou nas costas de Negredo e ainda recuou mais quando o Sevilha meteu a artilharia todo. Um e outro papel foram executados sempre com grande qualidade.
-
Desperdício portista
O que é demais é moléstia e raramente se terá visto o FC Porto criar tanto e desperdiçar ainda mais. Falcao ainda tem desculpa, porque regressava de uma longa paragem, mas principalmente a Hulk exigia-se outra concentração na hora do remate. Há dias assim...
Sevilha, 1
Jogo no Estádio do Dragão, no Porto.Assistência
35.609 espectadores.
Helton
6, Fucile
6, Rolando
6, Otamendi
7, Álvaro Pereira
5, Fernando
7, João Moutinho
6(Sapunaru
5, 74’), Belluschi
7, Hulk
6, Varela
6(Maicon
-, 86’) e Falcao
5(Guarín
5, 74’).
TreinadorAndré Villas-Boas.
SevilhaJavi Varas
8, Sérgio Sánchez
5(Luís Fabiano
6, 55’), Alexis
5, Fazio
5, Fernando Navarro
6, Rakitic
6, Zokora
5(Medel
6, 45’), Jesús Navas
7, Perotti
7(Rodri
-, 86’), Kanouté
7, Negredo
5.
TreinadorGregorio Manzano.
ÁrbitroHoward Webb
5, de Inglaterra.
AmarelosNavarro (13’), Alexis (22’ e 77’), Belluschi (50’), Luís Fabiano (84’).
Vermelho directoÁlvaro Pereira (72’).
VermelhoAlexis (77’).
Golos0-1, por Luís Fabiano, aos 71’.
Notícia actualizada às 21h16