Despojos de Inverno

Costuma dizer-se que "mais vale cair em graça do que ser engraçado" - e a segunda longa-metragem de Debra Granik, uma das sensações do cinema independente americano de 2010 e um dos "outsiders" dos Óscares 2011 com quatro nomeações, é um bom exemplo disso, inscrevendo-se sem esforço na linhagem "rural" da qual fitas como "Ballast", de Lance Hammer, ou "Histórias de Caçadeira", de Jeff Nichols, são bons exemplos.


Em "Despojos de Inverno", ambientado nas montanhas Ozark na fronteira entre os estados de Missouri e Arkansas, uma miúda de 17 anos que um pai ausente e uma mãe doente e catatónica já forçou a tornar-se na mulher da casa vê-se obrigada a descobrir o que aconteceu ao pai para impedir que as autoridades a expulsem da casa - nem que para isso tenha de enfrentar o código de silêncio dos clãs da zona, para os quais as únicas saídas para sobreviver no meio da pobreza são o serviço militar ou o crime. Granik conjuga um olhar atento, e nada condescendente, sobre uma comunidade que parece saída do fundo dos tempos com uma estrutura discreta e fluida de "thriller", mas "Despojos de Inverno" é ainda filme um bocadinho "tolhido", ao qual falta um pouco mais de confiança para "descolar" de algum convencionalismo formal e, sobretudo, de uma certa indecisão no rumo a dar à história. Isso não nos deve distrair do facto de "Despojos de Inverno" ser um bom filme, inteligente, sério, atento - mas é pena que seja precisamente este o filme que "caiu em graça" junto da crítica internacional, quando "Ballast" ou "Histórias de Caçadeira", que lhe são grandemente superiores dentro da mesma estética, pouco ou nenhum impacto tiveram...

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