Primeiro-ministro indiano quer combater a corrupção e perseguir culpados

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A imprensa diz que Singh é um “primeiro-ministro honesto rodeado por uma administração desonesta” B Mathur/ Reuters

Em resposta aos ataques feitos ao seu Governo depois dos escândalos dos últimos meses, o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, garantiu querer combater a corrupção e assegurou que o Governo iria perseguir todos os culpados “quaisquer que sejam as posições que eles ocupem”.

Num raro momento televisivo em que o primeiro-ministro, e líder do partido do Congresso, convidou jornalistas a colocarem-lhe questões em directo, Singh viu-se obrigado a responder a várias perguntas sobre os recentes escândalos de corrupção em que o Governo tem estado envolvido.

O estado das investigações acerca dos Jogos da Commonwealth, que tiveram lugar em Nova Deli em Outubro do ano passado, foi um dos temas postos em cima da mesa e um dos mais polémicos do debate,

Os jogos da Commonwealth, competição multi-nacional e multi-desportiva, além de terem decorrido em estádios sem condições, com falhas de segurança e infra-estruturas incompletas, enfrentaram graves acusações de corrupção quanto a contratos envolvendo o evento e encomendas de equipamento. Aquele que era anunciado pelo Governo indiano como um momento de glória, acabou por se tornar num motivo de vergonha e embaraço nacional.

À questão colocada pelo jornalista indiano, Arnab Gosnawi, do canal televisivo “Times Now”, o primeiro-ministro respondeu: “Eu acho que estamos a tentar o nosso melhor. Mas temos de respeitar a lei. Somos um país onde a lei prevalece. Por vezes, por exemplo nesta altura, é muito frustrante, demora tempo, mas garanto-vos que os culpados não escaparão desta vez”.

Em Novembro do ano passado eclodiu o que é agora descrito como uma “das maiores investigações sobre corrupção na Índia”. Uma alegada venda fraudulenta de licenças de telemóveis de segunda geração (2G), realizada em 2008, terá prejudicado o tesouro público em cerca de 40 mil milhões de dólares.

Depois disso, o ministro das Telecomunicações, A. Raja, foi demitido e acabou por ser preso no início de Fevereiro. Raja é acusado de ter concedido as licenças num sistema de “primeiro a chegar, primeiro a ser servido” (em inglês, “First come, first served” ou FCFS), em vez de as mesmas terem ido a leilão.

Também na mesma altura o vice-presidente da operadora Etisalat DB Telecom Índia, um magnata do imobiliário, foi preso.

Sobre esta questão o primeiro-ministro terá respondido: “Quem obteve as licenças... como o FCFS foi implementado; isto nunca foi discutido comigo nem debatido com o Governo. Era exclusivamente uma decisão do [então] ministro das telecomunicações”.

O descontentamento do povo indiano com a situação reflectiu-se com uma marcha de milhares de pessoas contra a corrupção, realizada no fim de Janeiro.

Além dos escândalos, o Governo enfrenta ainda a acusação pública de nada fazer contra a inflação galopante que se vive no país. E 85 por cento das pessoas interrogadas numa sondagem realizada domingo pelo jornal “The Times of India”, acusam o partido do Congresso ou os Governos locais de serem responsáveis pelo aumento do custo de vida no país.

Sobre este assunto Singh terá dito que “desde há uns meses a inflação, e em particular a inflação do preço dos alimentos, é um problema”, cita a AFP. “Nós queremos responder de uma maneira que não perturbe o ritmo do crescimento”. O primeiro-ministro acrescentou que a inflação deveria diminuir de 8,23 por cento para 7 no final deste ano económico.

Manmohan Singh, que tem sido caracterizado pelos media como um “primeiro-ministro honesto rodeado por uma administração desonesta”, revelou que tem olhado para a vida “como um processo de aprender e reaprender. Tem sido uma óptima experiência educacional desde o serviço cívico ao mundo académico até ao mundo político”.

Quando questionado pelos jornalistas se estaria pronto para se recandidatar a primeiro-ministro, Singh respondeu que é “muito cedo” para especular sobre quem será o próximo candidato, sublinhando que ainda tem de “terminar este mandato”.

Singh, em funções desde 2004, e apesar da sua imagem e a do Governo estarem abaladas, garante que não abandonará o seu cargo e defende o balanço da sua administração. “Ainda temos muito trabalho inacabado por cumprir”, acrescentou.

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