"Dia D" para Cabo Verde também se decide em Portugal

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Os eleitores vão escolher entre a "mesti muda" e a continuidade Miguel Madeira

“Mesti muda” – “é preciso mudar”. Este tem sido um dos slogans da oposição na campanha para as legislativas de hoje em Cabo Verde. Mas há quem prefira apostar na continuidade, como Aboubacar Barry, de 29 anos. Votou no Partido Africano de Independência de Cabo Verde (PAICV), governado por José Maria Neves. “Se o PAICV vencer vai continuar a desenvolver o país e promover o crescimento económico”, disse.

De Caminha a Portimão, incluindo a região autónoma dos Açores, são 48 as assembleias de voto espalhadas por Portugal. É nos Estados Unidos que se concentra a maior comunidade cabo-verdiana a nível mundial, mas é aqui que está o maior número de eleitores (12600). E há mais cabo-verdeanos a residir no estrangeiro do que no seu próprio país.

“Espero que independentemente de quem ganhe as eleições, melhore Cabo Verde em diversos aspectos”, disse uma jovem de 22 anos que preferiu não identificar-se, tal como a maioria dos eleitores que hoje foram votar a Alfornelos, na Amadora, um dos concelhos onde vive grande parte da comunidade cabo-verdeana residente em Portugal (para além de Sintra, Loures e Lisboa). Segundo o último relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), de 2009, a comunidade cabo-verdeana é a terceira com maior peso, só ultrapassada pela brasileira e ucraniana.

Aboubacar veio para estudar mas decidiu ficar a trabalhar como analista de crédito. “Se o MpD [Movimento para a democracia, o principal partido da oposição] ganhar vamos entrar num período de estagnação”, justifica. Não sabe se vai voltar a Cabo Verde até porque se sente bem integrado em Portugal, como a maioria dos entrevistados pelo PÚBLICO.

Mas ainda assim, “qual é o filho que não quer voltar para a sua mãe e pai?, diz Joaquim Varela, de 65 anos. “Quero voltar para a minha terra, mas lá não há dinheiro, não há trabalho, por isso não tenho essa possibilidade”, afirmou. Em Portugal desde 1972, foi votar “para cumprir o seu dever”, admitindo não estar muito familiarizado com a realidade do país onde nasceu.

Keila, de 20 anos, emigrante ilegal, também foi às urnas apenas para cumprir o seu dever porque “nenhum dos partidos, quer o MpD quer o PAICV, tem ajudado” a desenvolver Cabo Verde.

A bipolarização tem sido uma constante da democracia representativa cabo-verdiana: Carlos Veiga, o líder do MpD, comandou os destinos do país entre 1991-2001; José Maria Neves desde 2001 até agora. Contudo, para Keila, “mesti muda”, como tem defendido o MpD. Apesar de enfrentar uma situação difícil em Portugal, sem estudar, sem trabalhar, sem documentos e com uma filha para cuidar, Keila não pensa regressar. “Aqui sempre há uma saída, em Cabo Verde não”, diz.

O país da morabeza (amabilidade), dos 365 dias de sol, da cachupa (prato típico), tem gozado de um clima de estabilidade favorável nas suas relações externas. Registando um Índice de Desenvolvimento médio e detentor de uma parceria especial com a União Europeia, Cabo Verde parece estar “no bom caminho”, como diz Cláudia Lopes, de 31 anos, que foi hoje às urnas.

Há quem aponte que o clima de estabilidade que goza este país africano, ao contrário de muitos outros com constantes convulsões políticas, se deve à sua falta de recursos naturais. Sendo este um dos motivos ou não, a grande vencedora parece ser a democracia.

Notícia corrigida às 13h40
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