O amor é...

Edward Zwick é realizador que gosta dos gestos grandes e épicos, que tanto acerta ("Tempo de Glória", "Diamante de Sangue") como falha ("Lendas de Paixão", "O Último Samurai"). Daí que vê-lo a atirar-se à comédia romântica comece por inspirar alguma desconfiança, antes de nos devolver o melhor Zwick, aquele que criou, ajudou a escrever e dirigiu vários episódios da seminal série televisiva "Os Trintões".


"O Amor É o Melhor Remédio" é uma comédia romântica muito politicamente incorrecta, sobre o romance improvável entre um delegado de propaganda médica ambicioso e mulherengo e uma artista cujo diagnóstico de Parkinson precoce tornou cínica e misantropa. O encontro entre estes dois egoístas viciados em sexo desenrola-se nos anos 1990, sob fundo do lançamento do Viagra, e é ao mesmo tempo um olhar de devastadora irrisão sobre as manigâncias da indústria farmacêutica, uma comédia sexual mal comportada sem falsos moralismos, e uma comédia romântica com gente lá dentro em vez de construções de argumentista, alinhando sem pruridos situações de que a maior parte das comédias românticas foge como o diabo da cruz.

O elenco de luxo que Zwick reuniu ajuda, e muito, até porque Jake Gyllenhaal e uma fulgurante Anne Hathaway (muito longe dos "Diários da Princesa") raras vezes têm papel que lhes permita ligar o charme no máximo deste modo. Não é um filme perfeito - nem sempre a gestão dos vários tons é feita a contento - mas o que noutras mãos seria uma confusão desgraçada dá todos os passos certos nas de Zwick. E é reconfortante perceber que ainda é possível fazer uma boa comédia romântica que não se limite a reciclar fórmulas e arquétipos sem trazer nada de novo.

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