Nuno Cardoso: “Arrependo-me de ter sido tão ambicioso. Sofremos demais, as obras foram exageradas”

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Para Cardoso, as saídas de Fernando Gomes e Artur Santos Silva marcaram o projecto Paulo Pimenta/arquivo

O ex-presidente da Câmara do Porto, Nuno Cardoso, arrepende-se de ter sido demasiado ambicioso com a requalificação urbana da Porto 2001, afirmando que, se fosse hoje, teria feito menos obra, porque a cidade “sofreu demais”.

Em entrevista à Lusa, o ex-autarca chega mesmo a emocionar-se quando recorda o caos em que o Porto se transformou com as intervenções no espaço público.

“Estou muito associado à enorme dimensão que tudo isto assumiu e à distância porventura arrependo-me de termos sido tão ambiciosos. Porque sofremos demais, acho que sofremos demais, as obras foram exageradas...”, afirmou Nuno Cardoso, mostrando evidentes sinais de comoção.

O ex-edil diz que “esperava mais coordenação e capacidade de intervenção” na requalificação da cidade e considera que, “a dado momento, a Porto 2001 perdeu-se” em tanta obra.

“Emocionei-me porque mexe muito comigo o projecto da cidade. Sinto sinceras culpas pela dimensão do projecto. Hoje faria menos obra e com mais qualidade, que ficasse mais marcante. O projecto foi muito extenso e ambicioso. Exageramos na dose. Hoje teria feito menos, com obras mais coordenadas”, disse.

Para Cardoso, as saídas de Fernando Gomes e Artur Santos Silva marcaram o projecto.

“Houve mudanças que foi pena terem acontecido. A Capital da Cultura teria sido muito melhor se Fernando Gomes tivesse ficado na Câmara, se Artur Santos Silva tivesse ficado na Porto 2001 e se eu tivesse ficado no papel de ligar os dois organismos”, recorda.

O ex-autarca não se arrepende de ter escolhido Teresa Lago para suceder a Santos Silva, mas admite que nem tudo correu bem. “A Câmara era tutela da Porto 2001. Teresa Lago não percebeu muito bem essas hierarquias e funcionalidades”, alerta.

No entanto, sustenta que a professora foi “uma boa decisão, uma pessoa com muita energia e muita fibra” que se “dedicou muitíssimo ao projecto”.

A primeira opção foi, no entanto, Sobrinho Simões, revela.

“Quem tinha a incumbência de escolher era o ministro da Cultura, mas ao fim de duas, três semanas, não tinha conseguido encontrar ninguém. Numa sexta à tarde ligou-me. Para mim, tinha de ser uma pessoa que conhecesse o projecto e de ser diferente de Santos Silva. Fiquei com duas hipóteses: Sobrinho Simões e Teresa Lago. Não consegui contactar o Sobrinho Simões, penso que ele também não aceitaria, e convidei Teresa Lago”, lembra.

A “recordação mais forte” que o ex-autarca guarda da Porto 2001 é “o envolvimento da população, que saiu à rua, participou nos eventos, viveu a cidade e viveu a cultura”.

Cardoso considera que o evento “deixou imensas marcas perenes” na cidade, sendo a “mais emblemática” a Casa da Música.

Lamentável, diz, é que o potencial cultural da Porto 2001 tenha sido “lançado no cano de esgoto” pela actual gestão camarária.

“Houve uma mudança política na Câmara para alguém que não percebeu o projecto. Mudámos do 80 para o menos 8... Passamos para a hostilização dos agentes culturais.... Havia um menino que foi lançado no cano do esgoto com a água do banho”, critica, notando que assim se perdeu a oportunidade de transformar o Porto numa “capital europeia da Cultura para sempre”.

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