Fora da Lei

Acaba por ver traído o voluntarismo dos propósitos ao deixar-se transformar na caricatura do "filme de género"

"Hors-la-loi" segue a vida de três irmãos argelinos e da sua mãe ao longo de três décadas, dos anos 30 à independência de Argel, em 1962. Quis fazer um "Era Uma Vez na América", assumiu o realizador, Rachid Bouchareb. Ilusões, ilusões...


O filme alinha sequência atrás de sequência, legenda atrás de legenda para sinalizar espaço e época diferentes - consciência de que a forma é incipiente, que não há unhas para a guitarra, por isso é preciso ajuda...? -, e é um exemplo de impotência para criar personagens e sopro épico. Narrativa identitária, como outro filme do realizador, "Indigènes" (2006), acaba por ver traído o voluntarismo dos propósitos ao deixar-se transformar na caricatura do "filme de género" - neste caso, o épico - e do "fazer à americana". Foi um "caso" em França em 2010, o que se compreende porque há pouco cinema para lhe pegar, sobra a política. Sectores conservadores franceses indignaram-se pela forma como Bouchareb reconstitui o massacre de Setif, em 1945.

Na verdade nunca é o centro do filme, apenas faz parte do passado e percurso das personagens, mas acordou fantasmas não resolvidos na sociedade francesa - houve manifestações da França nostálgica na altura da exibição no Festival de Cannes em Maio. Setif, 1945: para festejar a vitória dos aliados na II Guerra, os partidos nacionalistas da Argélia aproveitam para fazer as suas reivindicações patrióticas e um incidente, o disparo de um polícia francês sobre um jovem argelino que levantara a "sua" bandeira, desencadeou confrontos que levaram à intervenção do Exército francês e vítimas de ambos os lados; o número de argelinos mortos ainda é assunto de debate histórico, entre o milhar, número do Governo francês da altura, e os 45 mil que já foi veiculado pelo Governo argelino.

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