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Dezenas de mortos em combates na Costa do Marfim

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Nas ruas são visíveis os sinais de manifestações mais acesas Foto: Luc Gnago/Reuters

Pelo menos três dezenas de mortos e meia centena de feridos era ao fim da tarde o balanço dos combates em Abidjan, segundo um enviado da France 24.

O campo leal ao Presidente cessante da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, reconheceu a existência de 20 mortos, enquanto o do Presidente eleito Alassane Ouattara falou de 20, noticia por seu turno a revista "Jeune Afrique". E isto sem falar no que teria acontecido no resto do país.

Os terrenos da embaixada norte-americana em Abidjan foram atingidos por uma granada perdida, no meio da confusão reinante. O engenho atingiu a representação diplomática dos Estados Unidos durante o combate das forças governamentais aos manifestantes que pretendiam avançar para os estúdios da televisão estatal, anunciou em Washington o Departamento de Estado.

"Parece que uma RPG errante (granada lançada por um rocket) atingiu o perímetro exterior da embaixada, tendo causado apenas danos ligeiros", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner.

A polícia tentou dispersar os partidários do Presidente eleito Alassane Ouattara que pretendiam desfilar até às instalações da televisão estatal, no centro da cidade de Abidjan. Ouviram-se disparos de armas pesadas e o intuito acabou por ser adiado para amanhã.

Os manifestantes desejariam ocupar a televisão e expulsar de lá a administração que permanece fiel ao Presidente cessante, que não quer reconhecer o facto de haver sido derrotado nas urnas, segundo dados que foram validados pelas Nações Unidas.

O Exército, que tal como a polícia permanece leal a Gbagbo, cerca as instalações da televisão, acusando os manifestantes de procurarem deliberadamente entrar em confronto.

Quanto às Nações Unidas, apesar de terem reconhecido Ouattara como Presidente eleito, recusaram o seu pedido para garantir a segurança deste desfile até à televisão. Mas colocaram 800 capacetes azuis a proteger o hotel onde ele se encontra instalado.

O secretário-geral Ban Ki-moon solicitou às duas partes que evitem fazer qualquer coisa que possa provocar actos de violência; e duas dezenas de organizações não governamentais de diferentes países também apelaram à calma.

Num comunicado distribuído em Paris, disseram que já tinha havido “dezenas” de mortos desde a segunda volta das presidenciais, no dia 28 de Novembro, pelo que temiam para hoje e amanhã uma grande escalada da violência. A França não tenciona intervir, nem interpor-se entre as duas partes. Quando muito, as tropas que lá tem destacadas servirão para retirar os seus compatriotas, se houver necessidade disso.

Quanto à Bélgica, aconselhou os seus cidadãos que se encontrem na Costa do Marfim a que deixem temporariamente o país, uma vez que ninguém sabe o que é que lá poderá acontecer durante os próximos dias. Estados Unidos, Canadá e Holanda já haviam procedido de idêntico modo, por haver o receio de uma guerra civil. Os missionários mormons já partiram.

“O secretário-geral das Nações Unidas recorda aos que incitam ou exercem violência, e aos que usam os media com esse objectivo, que serão responsabilizados pelas suas acções”, disse à BBC o seu porta-voz Martin Nesirky. Enquanto isto, Ban Ki-moon voltou a pedir a Gbagbo que se demita.

Plano de ocupaçõesOs partidários de Ouattara programaram ocupar hoje os estúdios da televisão estatal e amanhã o gabinete do primeiro-ministro indigitado por Laurent Gbagbo, Aké N'Gbo, de modo a obrigarem ambos a aceitar uma transferência do poder. Mas os seus intentos estão a revelar-se difíceis de concretizar.

“Os dois campos estão a radicalizar-se”, comentou Dominique Assalé-Aka, vice-presidente da Convenção da Sociedade Civil Marfinense. Muitos estabelecimentos fecharam e as ruas do centro da cidade estão desertas.

Ouattara e o primeiro-ministro por ele escolhido, Guillaume Soro, encontram-se entrincheirados no Golf Hôtel, que está a servir como a sede de um poder paralelo ao de Laurent Gbagbo. E foi precisamente nas imediações desse hotel que o fogo se apresentou hoje mais forte, se bem que também se tivesse verificado noutras zonas da cidade.

Elementos da antiga rebelião das Forças Novas (FN), que era dirigida precisamente por Soro, travavam ao princípio da tarde forte tiroteio com os elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS), leais ao Presidente cessante, que ao longo da sua carreira tem contado com a solidariedade da Internacional Socialista.

Mobilização geral

Guilaume Soro “pediu às populações que se mobilizem e convidou-as a não se deixarem distrair por esta ditadura dos carros de combate", indica um comunicado publicado pelo seu gabinete.

Enquanto isto, os rebeldes que controlam o Norte do país combateram hoje soldados leais a Gagbo nas proximidades da cidade de Tiebissou, na linha que separa em duas a Costa do Marfim. Durante pelo menos três horas ouviram-se disparos de armas pesadas, mas não houve de imediato conhecimento de baixas.

Muitos milhares de cidadãos da Costa do Marfim, que é o maior produtor mundial de cacau, têm estado a fugir para países vizinhos, como a Libéria e a República da Guiné, por temerem o pior, devido ao impasse que se vive desde há 18 dias, com a existência agora de dois presidentes e de dois primeiros-ministros.

O presidente da Câmara do Comércio, Jean-Louis Billon, foi ontem impedido de deixar o país, depois de ter aconselhado os seus associados a deixarem de pagar impostos, devido ao impasse actualmente existente. E confiscaram-lhe o passaporte.

Qualquer uma das partes acusa a outra de estar a recrutar mercenários, pelo que se teme uma guerra civil nos moldes da que já se viveu em 2002 e 2003.

O Parlamento Europeu aprovou ao fim da manhã de hoje uma resolução em que pede aos marfinenses que rejeitem a violência e convida a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, a tomar "novas iniciativas" de apoio a Ouattara, que é um político liberal.

Notícia actualizada às 19h10

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