Morreu o realizador e argumentista Blake Edwards

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Blake Edwards e a sua mulher, a actriz Julie Andrews Fred Prouser -Reuters

O realizador Blake Edwards morreu hoje aos 88 anos. Blake Edwards, o criador da série cinematográfica “A Pantera Cor-de-Rosa”.

Considerado um dos cineastas mais importantes da comédia dos anos 1960 e 70, inesquecível pela parceria com o actor inglês Peter Sellers, Blake Edwards morreu esta manhã na sua casa em Los Angeles, rodeado pela mulher, a actriz Julie Andrews, e pelos filhos. Os filmes que realizou, como os vários da série "A Pantera Cor-de-Rosa", ou como o delirante "A Festa", mostraram-no como um mestre na direcção do humor físico dos protagonistas e na exploração do burlesco, mas, sobre essa camada de comicidade, escondia-se algo mais. "Seria incapaz de atravessar a vida caso não tivesse a capacidade de ver a sua dor de uma forma cómica", cita-o hoje o site da revista "Variety".

Nascido em 26 de Julho de 1922 em Tulsa, Oklahoma, Blake Edwards começou a trabalhar em cinema após completar os estudos em Beverly Hills. Primeiro e muito brevemente como actor, ainda nos anos 1940. Depois, como argumentista, trabalhou num western, "Panhandle", ou, com o realizador Robert Quine, em musicais como "Cruisin' Down The River". Seria na televisão, contudo, que veria o seu talento primeiro validado. "Peter Gunn", a série que idealizou para a CBS em 1958, tornou-o uma figura reconhecida no meio. A figura do protagonista, um detective privado com elegância de músico jazz e a frieza de personagem do cinema negro americano, e o ambiente em que se movia, os Estados Unidos à beira de profundas transformações sociais no final da década de 1950, eram já, de certa forma, marcas do que se seguiria.

Não por acaso, o autor da célebre banda sonora de "Peter Gunn", Henry Mancini, assinaria poucos anos depois a ainda mais célebre música que se tornou indissociável de "Pantera Cor-de-Rosa" - e é justo que a música, e a música de Mancini em especial, se ligue dessa forma ao percurso de Edwards, já que, principalmente nas comédias, há algo de realmente musical no seu trabalho.

A sua primeira grande marca na história do cinema não chegaria, contudo, numa comédia. Em 1961, dirige Audrey Hepburn em "Boneca de Luxo", adaptação do romance de Truman Capote, e transforma a história da bela, frágil e contraditória Holly Golightly num imenso sucesso crítico e comercial. Três anos depois, chegaria o filme pelo qual será mais recordado: "A Pantera Cor-de-Rosa", o primeiro da série que segue o inefável e incrivelmente desastrado Inspector Closeau, ou seja, um inesquecível Peter Sellers de bigode bem definido e sempre embrulhado numa gabardine. Sellers e Edwards trabalharam juntos em seis filmes da série que lhes deu definitivo protagonismo.

Para muitos, porém, o melhor momento da colaboração entre realizador e actor terá acontecido em "A Festa", de 1968, verdadeiro furacão de nonsense e cómico burlesco com Peter Sellers no papel de um medíocre actor indiano convidado por engano para uma festa da alta-sociedade de Hollywood, cenário aproveitado por Edwards para criar uma certeira sátira de costumes - era, assinale-se como curiosidade, o filme preferido de Elvis Presley.

Havia em Blake Edwards, filho de uma família disfuncional, como apontou várias vezes (foi criado pela mãe e pelo padrasto e só conheceu o pai biológico aos 40 anos), uma vontade de mostrar aquilo que se escondia sobre a fachada de normalidade e do politicamente correcto do quotidiano. O realizador fê-lo nas suas comédias com Sellers, mas fê-lo também na outra vertente da sua obra, que inclui filmes como "Tudo Boa Gente", de 1981, ou "Victor/Victoria", do ano seguinte. Ambos protagonizados por Julie Andrews, a sua segunda mulher, com quem se casou em 1969, são, respectivamente, uma sátira à comunidade criada em redor de Hollywodd e uma reflexão sobre identidade sexual e preconceito.

Edwards, homenageado em 2004 com um Óscar Honorário da Academia, continuou a filmar até à década de 1990, muito depois da morte, em 1980, de Peter Sellers, o actor que melhor soube responder perante a câmara ao talento de um realizador que viveu porque se ria das dores da vida.

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