A Tempo e Horas

Lembrarmo-nos de "O Melga"/ "The Cable Guy" (1996, Ben Stiller) durante "A Tempo e Horas" é quase uma sentença de morte para o filme de Todd Philips.

Naquele, a aproximação de Jim Carrey a Matthew Broderick atingia momentos tão paroxísticos que nem a popularidade de Carrey impediu que os espectadores se mantivessem retraídos, assustados. Foi um dos pontos altos da vocação demoníaca que existe (ou existia) em potência em Carrey. Zach Galifianakis não é Jim Carrey - mais redondo, menos sibilino, mais afectuoso, embora, como se dizia num anterior filme de Galifianakis/Philips, "A ressaca", pareça um Gremlin que traz livro de instruções -, mas também ele tira alguém que em tudo é o seu oposto (Robert Downey Jr.) do caminho certo, desviando-o para um "road movie" imprevisível, instalando "something wild" (isto serve para nos lembrarmos do filme de Jonathan Demme, em que Melanie Griffith desencaminhava o virginal Jeff Daniels). Bem, a verdade é que, apesar da sedução infantil de Galifianakis, o imprevisível é aqui mais previsível, os choques são de automóveis, e, tal como acontecia no fim-de-semana de solteiros de "A ressaca", depois das transgressões e da fúria escatológica (e a masturbação como recorrência) a ordem - televisiva, na verdade - é instalada. Sem grandes consequências cinematográficas.

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