A Cidade

Affleck é, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza do filme

E se Ben Affleck fosse muito mais interessante como realizador do que como actor? A questão não é retórica, a julgar por esta sua segunda realização depois de "Vista pela Última Vez..." (2007), adaptação de um romance de Chuck Hogan em tom de policial moderno sobre um ladrão de Boston tentado pela vontade de abandonar o crime e mudar de vida mas acorrentado pelo meio em que vive.


Affleck é, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza do filme: enquanto realizador, define em três pinceladas um ambiente, dirige um bom elenco ao ponto em que mesmo os papéis mais ínfimos têm uma ressonância e uma espessura invulgares neste tipo de produções de estúdio, filma as cenas de acção de modo nervoso e classicamente legível, e nada disto é de somenos nestes tempos em que a maior parte dos filmes de estúdio tomam os espectadores por parvos.

O problema, depois, é que Affleck-actor bem se esforça mas não consegue ter a gravidade que o papel central exige - parecendo que não, é capaz de ser essa a razão pela qual aquilo que, com um actor com outra tarimba e outra presença, poderia ter sido um "ersatz" proletário mas honesto de Michael Mann se fica por uma série B cumpridora e anónima. "A Cidade" estreia acompanhado de "Shoot Me", curta portuguesa de André Badalo que não passa da anedota empolada, sem outra razão de existir que uma demonstração impessoal de "savoir-faire" correctíssimo.

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