Valor económico poupa Pinhal Interior

O Pinhal Interior deixou de ser das regiões mais castigadas pelos incêndios florestais, passando o "cargo" ao Noroeste. Especialistas arriscam dizer que tal se deve ao maior reconhecimento do potencial económico pelas populações que dependem da floresta.

Paulo Fernandes, investigador do Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagista da Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro, descarta que o Pinhal Interior esteja a ser ajudado por uma meteorologia mais clemente. Prova disso é o número das ignições. Apesar de o Pinhal Interior ter tido "quase o dobro do risco de ignição do que o Noroeste", a verdade é que "tem havido muito menos ignições".

O investigador tirou as conclusões depois de analisar o número de ignições por cada 10 km quadrados a partir de Julho. Os distritos do Pinhal Interior, Castelo Branco e Santarém, tiveram apenas duas ignições cada. "Uma diferença enorme em relação a Aveiro, com 16 ignições", por exemplo. O Porto registou 79 ignições.

Helena Freitas, directora do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, também identificou este cenário pouco habitual no mapa dos incêndios, lembrando os anos de 2003 e 2004, "um ciclo profundamente chocante e desastroso para a Região Centro".

"Ao contrário do que acontece no Norte, os concelhos do Pinhal Interior têm hoje a percepção do valor económico da floresta e criaram mecanismos de prevenção". A Região Centro tornou-se "a mais apetecível" para novos valores florestais, como por exemplo a biomassa, ao passo que o Norte enfrenta uma situação de "abandono [da floresta] gravíssima". Por exemplo, disse, a Lousã e Oliveira do Hospital têm zonas de intervenção florestal "bem instaladas e activas".Paulo Fernandes considera também que no Pinhal Interior existe uma "maior ligação das populações à floresta, porque vivem dela".

Para Joaquim Sande Silva, investigador em fogos florestais na Escola Superior Agrária de Coimbra e no Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves, a diferença estará no "trabalho de prevenção para evitar o cenário de 2003". "À partida, descartaria a justificação de que já ardeu tudo o que havia para arder. A vegetação recupera tão depressa que aquilo que ardeu em 2003 está pronto para arder agora".

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