Panda Bear grita "Benfica", e o mundo indie conta os dias para "Tomboy"

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O novo álbum de Panda Bear só sai em Setembro mas ele anda a deixar pistas por todo o lado: é facto consumado que mudou - resta saber como vai reagir a comunidade indie Miguel Manso

A mudança no mundo musical de Noah Lennox.

Um músico, escondido na sombra, sustém notas no sintetizador durante longos segundos. Ouvem-se canções de estruturas mínimas, guiadas por acordes de guitarra repetidos como um mantra, curiosos "samples", como o som efusivo de uma claque de futebol, e uma voz trémula, embrulhada no manto sonoro.

Foi assim o concerto de Noah Lennox, ou Panda Bear, no Primavera Sound, em Barcelona, em Maio, onde pudemos reforçar uma tese: "Tomboy", que deve ser editado em Setembro, vai dividir a mesma comunidade "indie" que viu no antecessor "Person Pitch" (2007) um estupendo conjunto de canções sem paralelo na música pop moderna, cuja influência parece ser uma marca de água em boa parte da geração de "músicos de quarto" que marcou os últimos meses (Toro Y Moi, Washed Out, entre outros).

Entre a reverência e algum receio, a blogosfera e os espaços de comentários do YouTube têm-se dividido perante a divulgação de temas gravados ao vivo por fãs e duas canções já oficialmente editadas num sete polegadas, "Tomboy" e "Slow motion". Lennox sabe o que está em jogo: à revista "Mojo", reconheceu que está a sentir "quantidades enormes de pressão para apresentar algo mesmo bom".

O material já editado permite perceber que Lennox mudou. "Tomboy" exibe uma sequência de acordes de guitarra simples - dir-se-ia que é Lennox a libertar-se dos complexas linhas com que coseu "Person Pitch". Outros temas apontam na mesma direcção. "You can count on me" é uma balada despojada (soou belíssima no Primavera), "Benfica" (a tal com o som de uma claque transformada em "loop") exibe a paixão futebolística de Lennox, que vive em Lisboa desde 2004, e um outro tema, de nome desconhecido, gira em torno de um excerto pilhado ao pioneiro dub King Tubby.

Tudo isto tem uma causa atendível: Lennox cansou-se dos "samplers", fundamentais no som de "Person Pitch" (nele ouviam-se pedaços de Scott Walker, Tornados, Cat Stevens e cânticos góticos, genialmente misturados e transformados em coisa nova) e de "Merriweather Post Pavilion", dos seus Animal Collective. "Pensar nos Nirvana e nos White Stripes deu-me a ideia de fazer algo com um forte enfoque na guitarra e no ritmo", afirma Lennox, citado num texto promocional da sua editora, a Paw Tracks. "Muitas das canções", continua, "são sobre algo que está em conflito consigo mesmo, por isso a imagem de uma maria-rapaz ['Tomboy'] tornou-se a figura comum a este grupo de canções".

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