É Muito Rock, Meu!

Uma espécie de "sequela lateral" de "Um Belo Par de Patins"

A conjugação do idiótico título português e do cartaz chegam e sobram aos mais desatentos para arquivar "É Muito Rock, Meu!" na gaveta das comédias boçais descartáveis destinadas a tapar buracos nas programações das salas. Mas vale a pena escavar mais, porque esta é uma espécie de "sequela lateral" a uma das comédias mais injustiçadas dos últimos anos, "Um Belo Par de Patins" (2008).


Nicholas Stoller, realizador de ambos mas aqui também argumentista, puxa para primeiro plano uma personagem secundária do antecessor, o astro rock Aldous Snow, arquétipo "sex, drugs & rock'n'roll" que anda pelas ruas da amargura e cuja reabilitação passa por um concerto de regresso à sala onde a sua carreira disparou (o Greek Theatre referenciado no título original). O filme, então, é a odisseia de Snow e do júnior da editora enviado para lhe servir de "babysitter" durante os três dias que faltam para o concerto, e sente-se que terá passado pela cabeça de Stoller fazer uma "resposta" roqueira ao êxito-sensação de 2009 que foi "A Ressaca". O resultado, no entanto, nunca se consegue equilibrar na corda muito bamba em que se quer pôr de pé: bom enquanto comédia do desconforto à volta da inadequação, da fachada e da percepção; irresistível enquanto desvairo quase-absurdista que leva aos limites a mitologia decadente do rock''n''roll; certeiro mas banal enquanto sátira do negócio da música; insuficiente enquanto comédia romântica do re-casamento; francamente pedestre enquanto "bromance" Apatowiano sobre homens em busca do seu lugar no mundo. Stoller quer fazer malabarismo com demasiadas bolas ao mesmo tempo sem o conseguir, complicado pelo funcionalismo amador da realização e da imagem.

O que redime o filme e o torna digno de interesse, no entanto, é a energia inesgotável da sua dupla de actores, Jonah Hill e Russell Brand, e a aposta num humor transgressoramente vulgar mas inofensivo na sua inocência de puto que acaba de descobrir o mundo maravilhoso das palavras feias. Está uns bons furos abaixo de "Um Belo Par de Patins", mas tem "filme de culto" estampado por tudo quanto é sítio - e vai criar um pequeno exército de ferrenhos.

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