Judeus europeus pretendem chegar por mar à Faixa de Gaza

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A ideia de se enviar um barco com activistas judeus surgiu dias depois de Israel ter morto nove turcos Amir Cohen/Reuters

"Um barco judaico para Gaza" é o lema da expedição que está a ser organizada pelos Judeus Europeus por uma Paz Justa, para ir de barco até à Faixa de Gaza, no fim do próximo mês.

Um sobrevivente do Holocausto, de 85 anos, vai juntar-se a activistas alemães, britânicos e de outras nacionalidades, para protestar contra o bloqueio de Israel, disse ontem ao PÚBLICO, pelo telefone, o comandante do navio que está a ser preparado para a iniciativa, Glyn Secker, contactado no Reino Unido.

Jornalistas dos canais 2 e 10 da televisão israelita deverão acompanhar "um barco para Gaza", de modo a testemunharem que há judeus que querem "justiça para os palestinianos", esclareceram tanto Secker como a alemã Kate Katzenstein-Leiterer, que também integra a equipa de organizadores da viagem.

"Somos gente não violenta, que considera que o bloqueio é um castigo colectivo e ilegal para toda uma população", afirmou o comandante do barco, ainda de nome secreto, que durante a segunda quinzena de Julho deverá zarpar de um porto algures no Mar Mediterrâneo.

De modo a evitar qualquer tipo de sabotagem por parte dos serviços secretos israelitas, os Judeus Europeus por uma Paz Justa só tencionam divulgar a data exacta da viagem e o nome do porto dias antes de o projecto se concretizar.

A iniciativa partiu do grupo alemão Jüdische Stimme für gerechten Frieden in Nahost (Uma Voz Judaica para a Paz no Médio Oriente), a ela tendo aderido outras organizações judaicas que afirmam representar "a grande voz alternativa dos judeus na Europa", e que entendem que o bloqueio a Gaza "é um acto altamente imoral, que obriga as pessoas a viver nas ruínas das suas casas".

Para além da situação de isolamento que se vive desde que, há 18 meses, tropas israelitas bombardearam Gaza, os judeus europeus querem protestar contra "a intenção do Governo israelita anexar grande parte da terra palestiniana".

A ideia de se enviar um barco com activistas judeus surgiu dias depois de Israel ter morto nove turcos que de igual modo pretendiam fazer chegar ajuda humanitária a Gaza, numa iniciativa que envolveu várias embarcações e centenas de pessoas.

"Temos uma pequena embarcação, em que estarão umas 12 pessoas. Mas estamos a discutir a possibilidade de não ser apenas um barco", declarou Kate Katzenstein-Leiterer, que está a recolher mochilas com donativos de crianças alemãs para a população de Gaza, um dos territórios mais densamente povoados do mundo.

Controlo naval

Desde o raide israelita contra os navios de activistas que se sucedem os pedidos de levantamento do bloqueio. Ontem, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, no Canadá que Israel ainda se mantém reticente à sua proposta de que os barcos com destino à Faixa de Gaza sejam controlados pela União Europeia. O controlo poderia decorrer em Chipre, onde há um porto de águas profundas, sendo depois as cargas desembarcadas no porto israelita de Ashdod, para onde têm sido rebocadas todas as embarcações que procuram alcançar a Faixa.

Israel tem vindo a condicionar o levantamento do bloqueio à possibilidade de serem autorizadas visitas ao soldado Gilad Shalit, capturado na Faixa de Gaza em 25 de Junho de 2006, e desde então mantido como refém.

Por outro lado, Kouchner está céptico quanto à possibilidade de a UE poder assumir o controlo da passagem fronteiriça de Rafah, entre o Egipto e a Faixa de Gaza. As autoridades do Cairo não aceitam que se fale directamente com o Hamas.

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