Quando E. M. Forster teve sexo, deixou de escrever romances

Na próxima semana, com edição da Bloomsbury, estará nas livrarias a biografia escrita por Wendy Moffat.

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Durante anos, o diário secreto de E.M. Forster (1879-1970) esteve guardado em Cambridge, onde o escritor manteve um quarto até morrer. Só em 2008, os investigadores começaram a ter acesso a esse manuscrito. E os resultados estão a aparecer. Na próxima semana, com edição da Bloomsbury, estará nas livrarias a biografia escrita por Wendy Moffat, uma americana filha de ingleses, professora de literatura inglesa no Dickinson College, Pennsylvania.

De acordo com a imprensa britânica, a grande revelação é esta: Forster, que sempre soube que era homossexual, só teve sexo aos 38 anos e a partir daí deixou de escrever romances. “Eu teria sido um escritor mais famoso se tivesse escrito ou publicado mais, mas o sexo impediu isso”, escreve Forster no seu diário.

O último romance que publicou em vida foi “Passagem Para a Índia”, em 1924. Tinha então 35 anos e ainda uma longa vida pela frente. Depois, até morrer, aos 91 anos, só publicou ensaios e relatos de viagem. Manteve na gaveta “Maurice”, o romance “gay” da juventude, lançado após a sua morte. Sabendo agora que Forster era virgem quando o escreveu, Wendy Moffat diz que “Maurice” é “um testamento à extraordinária imaginação” do escritor.

O crítico da “New Statesman” acha que o forte desta nova biografia é também o seu fraco. Ou seja, vem preencher lacunas quanto à vida privada de Forster, mas concentra-se demasiado nisso - o sexo.

De acordo com Wendy Moffat, foi numa praia egípcia que o escritor perdeu a virgindade com um soldado ferido. Eram conhecidas as experiências amorosas de Forster no Egipto. Foi para lá em fins da I Guerra Mundial, trabalhar com a Cruz Vermelha. O seu grande amor em Alexandria terá sido Mohammed el Ali, um condutor de eléctricos. Seguiram-se os tempos da Índia e o regresso a Inglaterra.

Segundo esta biógrafa, o diário de Forster revela que todos os amantes que foi tendo eram de origem operária. “Quero amar um jovem forte das classes baixas e ser amado por ele e até magoado por ele”, escreve Forster.

Isto incluiu marinheiros e polícias. Moffat revela que “o amor da vida” dele foi o polícia Bob Buckingham. Esse romance terá começado em 1930 e durado até à morte. Forster dava-se bem com a mulher de Buckingham e gostava muito do filho de ambos, a ponto de ter comprado uma casa para a família, os ter ajudado ao longo da vida, e de lhes ter deixado uma herança.

O diário britânico “The Times” ouviu o escritor Alan Hollinghurst, um “gay” assumido, sobre estas revelações: “É certamente verdade que para bastantes escritores, e certamente para Forster, a supressão da sexualidade era uma grande força criativa. E, sim, a felicidade que ele encontrou numa relação fez desaparecer a urgência da escrita.”

Aos 85 anos, Forster escreveu no diário: “Como me incomoda que a sociedade tenha perdido o meu tempo ao fazer da homosexualidade um crime. Os subterfúgios e as inibições que podiam ter sido evitadas.”

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