O Mensageiro

Não há outro filme assim, neste momento, nas salas portuguesas, com esta determinação de ir com as personagens, de habitar a sua gravidade. É a estreia na realização de Oren Moverman.


O cineasta, em entrevistas, refere a influência de um filme como "The Last Detail" (1973), de Al Ashby, que era algo próximo de um "road movie" existencial - é como podemos sintetizar "O Mensageiro", que até está mais próximo da deambulação urbana do filme de Ashby, e dessa coragem adulta do cinema americano dos anos 70, do que de "No Vale de Ellah" (2007), de Paul Haggis, um dos filmes saídos da guerra do Iraque com que a estreia de Moverman pode ser comparada por a guerra também ser filmada em casa, na América. (E poderíamos acrescentar ainda "Jardins de Pedra", 1987, de Coppola - aí era o Vietname).

Em "O Mensageiro" dois soldados têm a tarefa de comunicar aos familiares e amantes de soldados em missão no Iraque a morte dos seus entes queridos. Para além da guerra, e como no cinema clássico americano, o que se filma em "O Mensageiro" é uma "love story" entre dois homens - uma história de amor entre dois heterossexuais que se aproximam e se descobrem para além do protocolo, das poses, das máscaras e dos espartilhos emocionais com que se defendem e se martirizam. Woody Harrelson e Ben Foster são portentosos, comoventes, nestes dois inadaptados: derrubados e sempre de pé.

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