Reportagem: Mar Báltico, um ecossistema extremamente frágil

Seis cabeças de focas cinzentas (Halichoerus grypus) espreitam por entre os buracos no gelo. Estes pioneiros do repovoamento da sua espécie ao longo das costas polacas do Báltico são também o símbolo do ecossistema extremamente vulnerável deste mar quase fechado e de pouca profundidade.

“Há um século existiam cerca de cem mil focas cinzentas no Báltico. Nos anos 1980, a sua população caiu para duas mil a três mil”, explica Iwona Pawliczka, bióloga na Estação Marítima de Investigação da Universidade de Gdansk.

“Não conhecemos todas as razões do desaparecimento das focas da costa polaca do Báltico”, lamentou, acrescentando que a poluição química – que tornou as fêmeas estéreis – e a caça contribuíram para dizimar estes mamíferos.

Perto da Suécia, no Norte do Mar Báltico, ainda existem cerca de 20 mil animais. Mas mais a Sul, na costa polaca, apenas restam algumas dezenas, precisa Pawliczka.

Mas a situação desta foca não é única. A toninha-comum (Phocoena phocoena), pequeno cetáceo, vive um cenário ainda mais difícil. A caça, as redes de pesca, os produtos químicos e a poluição sonora quase exterminaram esta espécie por completo. Os especialistas registaram menos de 250 animais nas águas do Báltico.

Actualmente vivem 16 milhões de pessoas na zona costeira deste mar, que faz fronteira com nove países – Alemanha, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Letónia, Lituânia, Polónia, Rússia e Suécia.

Relativamente pequeno, o Báltico tem pouca capacidade para impelir os poluentes em direcção às águas mais vastas do Mar do Norte, o que torna o seu ecossistema extremamente frágil, alertam os especialistas.

A Finlândia convidou os chefes de Estado e de Governo dos países que fazem fronteira para o Báltico para uma cimeira a realizar amanhã, destinada a salvar este mar considerado pelas autoridades finlandesas como o mais poluído do planeta.

No porto de Gdynia, um ecrã de computador mostra a posição dos navios seguidos por satélite. “Agora temos a possibilidade de evitar marés negras no Báltico, vigiado de perto”, conta o responsável pelo porto, Andrzej Kaleta. Vários voos de vigilância da poluição nas águas territoriais polacas partem de Gdynia todas as semanas.

Os possíveis impactos ambientais do projecto de construção, entre a Rússia e a Alemanha, do gasoduto NordStream no fundo marinho geraram controvérsia entre os países com costas para o Báltico.

Mas, segundo o especialista em biologia marinha da Universidade de Gdansk, o professor Maciej Wolowicz, o maior perigo será a eutrofização, um processo complexo que priva o Báltico de oxigénio. Quando uma grande quantidade de nutrientes provenientes de explorações agrícolas e de águas residuais é lançada ao mar, as algas proliferam e privam de oxigénio vastas zonas, condenando toda a outra vida marinha. “É como uma desertificação do fundo do Báltico”, comenta Wolowicz.

“A lei e as regulamentações são essenciais. Mas se as pessoas não têm consciência dos efeitos das suas acções sobre o Ambiente, as regulamentações serão ineficazes”, insiste.

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