Homem que obrigaria a mulher a cobrir o rosto não pode ser francês

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Em França serão perto de duas mil as mulheres que usam véu integral Phil Noble/Reuters

O ministro francês da Imigração, Eric Besson, recusou a nacionalidade a um estrangeiro por se ter apurado que este obrigaria a sua mulher a cobrir o rosto com um véu islâmico.

Esta decisão surge poucos dias depois da apresentação do relatório final de uma comissão parlamentar que ao longo de seis meses debateu o uso do véu em França. Esta comissão propôs, entre outras medidas, que o véu islâmico integral (que tapa o rosto, totalmente, no caso da burqa, ou deixando apenas os olhos a descoberto, com o niqab) seja proibido nos serviços públicos, hospitais e transportes.

A comissão recomendou também que fosse recusada a cidadania ou a autorização de residência a qualquer pessoa que mostrasse sinais de “uma prática religiosa radical”.

“Eric Besson confirmou ter assinado e transmitido ao primeiro-ministro um projecto de decreto onde se recusa a aquisição da nacionalidade francesa a um cidadão estrangeiro casado com uma francesa”, explica-se num comunicado do Ministério. “Durante o inquérito regulamentar e na entrevista prévia, ficou claro que esta pessoa impunha à sua esposa o uso do véu integral, privando-a da liberdade de sair de rosto descoberto e rejeitando os princípios da laicidade e da igualdade entre homem e mulher”, assegura ainda Besson.

O Ministério da Imigração não deu quaisquer informações sobre a identidade ou o país de origem do homem a quem foi negada a nacionalidade francesa. Sabe-se apenas que a sua mulher é francesa e que ele desejava juntar-se a ela, na sua residência.

Besson quis ainda sublinhar que a lei francesa requer que quem quer que deseje obter a nacionalidade deve demonstrar o seu desejo de integração.

Ora, a comissão parlamentar que a semana passada apresentou o seu relatório considerou que o véu integral é um “sinal pervertido de uma busca de identidade” e simboliza um “desafio aos valores da República”.

O debate divide os partidos, mas sabe-se que a UMP, do Presidente Nicolas Sarkozy, vai em breve avançar com uma proposta de lei para banir o uso da burqa e do niqab em público. Sarkozy já afirmou muitas vezes que estes véus “não são bem-vindos em França”.

Segundo uma sondagem recente, 57 por cento dos franceses defende a proibição da burqa. Mas segundo o Governo, só 367 mulheres usam em França esta peça de vestuário que cobre o corpo e o rosto, deixando apenas uma rede fina diante dos olhos. Ao todo, serão umas 1900 as que usam aquilo a que o Executivo chama véu integral, burqa ou niqab.

Em 2009, de acordo com os números oficiais, 108 275 estrangeiros adquiriram a nacionalidade francesa, número quase igual ao do ano anterior. A França é assim um dos países europeus que responde favoravelmente a mais pedidos de nacionalidade anualmente.

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