O romance do fotógrafo e da famosa

Uma amável comédia romântica que prova como é possível fazer cinema de grande público sem cair no mínimo denominador comum

Fossem todos os filmes portugueses ditos "comerciais", dirigidos ao grande público, como "A Bela e o Paparazzo" e não passaríamos o tempo a lamentar o triste estado em que o cinema português anda nos últimos anos. Isto não quer dizer que o filme seja uma obra-prima - não é; está uns furinhos abaixo dos "Imortais" (2003), mas está bem acima da inflacionada "Call Girl" de triste memória (2007) que mais parecia um "compacto" de mini-série televisiva.


Esta "Bela e o Paparazzo" recupera do anterior filme a actriz Soraia Chaves e o argumentista, Tiago Santos, ambos mais à vontade nesta amável comédia romântica dobrada de sátira igualmente amável à cultura da celebridade. Soraia é aqui Mariana, vedeta de telenovelas pouco à vontade com o seu estatuto de "famosa" que, em plena crise de identidade, se apaixona sem o saber pelo paparazzo que a coloca habitualmente nas primeiras páginas das revistas - Marco d''Almeida, rapaz que tinha ambições de fotógrafo sério mas acabou por ceder ao vil metal.

As farpas, admita-se, são mais alfinetadas que outra coisa - afinal de contas as vedetas do filme são elas próprias famosos e é daí que vem a ressonância da sátira, para já não falar de convir não morder a mão que dá de comer e que pode ajudar o filme a ser um sucesso. Mas têm a mais valia de serem atentas e certeiras em relação ao estado das coisas, e servem de pano de fundo a uma série de situações clássicas da comédia romântica de enganos que Santos alinha com desenvoltura e Vasconcelos dirige com elegância, mesmo que sem originalidade, e que assentam que nem uma luva na dupla de protagonistas.

Há também um bom leque de secundários a defender personagens bem esboçadas (nota mais para a editora venenosa de Maria João Luís e para o realizador enfadado de Nicolau Breyner), mas o filme falha mais na trama paralela da "independência do prédio", tentativa incompleta e pouco estruturada de invocação dos clássicos da "comédia à portuguesa" que nunca se entrosa a contento com a estrutura central do filme, apesar de Nuno Markl e dos pinguins estarem lá até sábado. Longe de ser uma obra-prima, é um filme escorreito, limpinho, bem-feito, divertido q. b., e isso já é bastante - sabemos de uns quantos realizadores (?) de êxito que bem podiam aprender aqui umas coisas...

Sugerir correcção
Comentar