Montantes médios de microcrédito são cada vez maiores

Os dados foram apresentados ontem num seminário organizado pela ANDC, e, conforme afirmou ao PÚBLICO o seu presidente, Mohamed Ahmed, explicam-se por haver pessoas cujos projectos têm maiores ambições. Este responsável adianta que "há cada vez mais pessoas com frequência universitária" a utilizar esta alternativa, com projectos que necessitam de maior financiamento. "É uma nova faceta da exclusão, que, se já existia antes, estava mais encoberta", explica.

O microcrédito está ligado a pequenos empréstimos para a criação de um pequeno negócio ou do próprio emprego, e é dirigido a alguém que, por falta de garantias reais, não tem acesso ao crédito normal. Millennium bcp, BES e CGD são os bancos que têm protocolos com a ANDC.

O número de projectos creditados, ou seja, que se concretizaram, também tem aumentado. Só os últimos três anos foram responsáveis por cerca de metade do total dos projectos aprovados na última década. Entre 1999 e 2009 houve 1284 projectos creditados, dos quais 637 surgiram entre 2007 e 2009.

Para o presidente da ANDC este crescimento deveu-se a um aumento da notoriedade a partir do momento em que a ONU escolheu 2005 para ano do microcrédito e desde que Muhammad Yunus, o pai deste conceito, ganhou o Nobel da Paz, em 2006. Foi também nesta fase, diz Ahmed, que a ANDC "começou a ser mais exigente consigo mesma", tornando-se mais activa no terreno.

O Millennnium bcp, que foi o primeiro banco nacional a apoiar a iniciativa da ANDC, lançou no final de 2005 uma operação autónoma dedicada ao microcrédito. Desde essa data, e segundo dados do final de Novembro, o banco, fora da relação que mantém com esta associação, já aprovou 1013 projectos.

No entanto, e apesar do crescimento registado desde 2006, este ano mostra-se menos positivo do que 2008. Segundo os dados da ANDC, houve 216 projectos aprovados até ao final da semana passada, quando esse valor foi de 255 no ano anterior.

Mohamed Ahmed constata que este sector não ficou imune à crise, seja pela maior reticência das pessoas em lançarem-se em novos negócios, uma vez que existe sempre um risco, seja pela restrição de empréstimos praticada de forma generalizada pela banca.

Já em termos de postos de trabalho, os dados da ANDC mostram um crescimento, tendo sido potenciados 322 empregos em 2009, contra os 318 do ano anterior.

A curto prazo, Mohamed Ahmed afirma que a ANDC pretende "sedimentar" as operações, nomeadamente no que diz respeito ao acompanhamento dos projectos apoiados. Em época de crise, ou em vias de sair dela, este contacto torna-se ainda mais importante, de modo a não deixar morrer os novos microempreendedores.

Ao mesmo tempo, e até porque 2010 será o ano internacional contra a pobreza e exclusão social, a ANDC, articulada com as suas congéneres europeias, pretende sensibilizar as instituições europeias no sentido de haver mais coordenação entre Estados no que diz respeito ao microcrédito, nomeadamente ao nível jurídico e fiscal.

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