A Esperança

Da última vez que encontrámos Joaquim Leitão no grande écrã, os resultados foram um dos melhores e mais criminosamente ignorados filmes portugueses dos últimos anos, "20,13". Reencontramo-lo agora num filme falhado que "corporiza" o dilema do cinema português contemporâneo que aspira ao êxito público. O que o "trailer" medonho (possivelmente o pior de sempre do cinema português) dá a entender é que "A Esperança Está Onde Menos se Espera" é um cruzamento entre "Zona J" e "Morangos com Açúcar", sobre um beto da linha que se vê remetido para uma escola pública suburbana quando o pai é despedido do seu emprego milionário; ou seja, televisão-em-grande-écrã, justificada pelo êxito em sala de objectos supostamente cinematográficos como "O Crime do Padre Amaro" ou "Amália".


Mas Joaquim Leitão parece ter querido fazer com "A Esperança Está Onde Menos se Espera" um melodrama sóbrio mais próximo do subvalorizado "Adeus, Pai" de Luís Filipe Rocha, na sua história de um pai que não soube ser pai e de um filho que não soube ser filho, e do modo como os golpes da vida os forçam a reconstruir a sua relação. O problema, depois, é que esse filme, centrado na "queda em desgraça" do pai (desenhada economicamente em meia-dúzia de excelentes cenas muitíssimo bem interpretadas por Virgílio Castelo), não "bate" com o filme que Tino Navarro escreveu com Manuel Arouca, centrado no "peixe fora de água" do filho (Carlos Nunes pouco convincente, nada ajudado pela banalidade confrangedora dos diálogos que é forçado a debitar).

De um lado, um fôlego, um ritmo, uma respiração de cinema que transcende com elegância o lugar-comum que lhe está na origem; do outro, uma banalidade anónima que se afoga em clichés de telenovela e parece feita à medida do pequeno écrã - entre um e outro, o filme não se consegue sustentar, a competência e o profissionalismo da encenação não resistem, "A Esperança Está Onde Menos se Espera" esforça-se por não soçobrar e acaba por meter demasiada água. É um tiro ao lado de um realizador que é muito melhor do que isto e não o merecia.

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