Lockerbie: Megrahi acolhido na Líbia como herói, numa afronta aos EUA

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Megrahi partiu ao início da tarde do aeroporto de Glasgow Danny Lawson/Reuters

Abdelbaset Ali Mohmed al-Megrahi, que cumpria pena de prisão perpétua por ter feito explodir um avião da Pan Am sobre a localidade de Lockerbie, na Escócia, num atentado que matou 270 pessoas, foi recebido esta noite como herói no aeroporto de Trípoli. O governo autónomo escocês alegou motivos humanitários para libertar o líbio, que tem um cancro em fase terminal, mas o Presidente americano disse tratar-se de “um erro”.

O jacto pessoal do coronel Muammar Khadafi, enviado propositadamente à Escócia, aterrou no aeroporto da capital líbia às 19h30 (hora de Lisboa), onde era aguardado por centenas de pessoas.

Megrahi saiu do aparelho algum tempo depois, ao som do hino nacional e amparado por Seif al-Islam, um dos filhos do líder líbio. A chegada do antigo agente secreto líbio ocorre na véspera do mês sagrado do Ramadão e numa altura em que Khadafi prepara as celebrações dos 40 anos do seu regime.

A cerimónia foi uma última ofensa aos familiares das vítimas, a maioria dos quais se opôs à libertação de Megrahi, mas também à Administração norte-americana. Quando Megrahi voava já de regresso a casa, Barack Obama contou que tinha estado “em contacto” com Trípoli para garantir que o líbio “não era aclamado à chegada e que seria colocado em prisão domiciliária”.

Os EUA, que perderam 189 cidadãos no atentado de Dezembro de 1988, fizeram grande pressão para que as autoridades britânicas mantivessem na prisão o condenado de 57 anos. Mas os apelos não convenceram o governo autónomo da Escócia.

Kenny MacAskill, o nacionalista de 51 anos que é o ministro da Justiça no governo autónomo, anunciou ao princípio da tarde, depois de uma longa explanação de todo o processo, que o prisioneiro era libertado por motivos humanitários, dado padecer de um cancro da próstata em estado terminal. Cancro que foi diagnosticado em Setembro de 2008 e que, segundo os médicos, já não lhe deverá permitir sobreviver mais de três meses.

Julgamento na Holanda

O antigo agente secreto líbio, julgado na Holanda, foi condenado em 2001 a cumprir um mínimo de 27 anos de cadeia numa prisão escocesa. Mas em 2007 foi levantada a hipótese de ter sido vítima de um erro judicial.

Cerca de uma hora depois da conferência de imprensa dada pelo ministro escocês da Justiça, o avião com o ex-prisioneiro deixou o aeroporto de Glasgow. Num comunicado emitido nessa altura, Megrahi declarou a sua “sincera simpatia” pelos familiares das vítimas e disse estar “aliviado” por poder regressar a casa.

Suse Lowenstein, de Nova Iorque, que perdeu o filho de 21 anos no atentado, disse ser-lhe difícil aceitar que o homem tido como responsável pela morte de tanta gente vá poder expirar nos braços da família.

A libertação verificou-se numa altura em que estão a melhorar as relações da Líbia com o Ocidente, desde que em 2003 o coronel Muammar Khadafi decidiu acabar com o seu programa de armas nucleares.

A Liga Árabe saudou a libertaçao e disse esperar que a Líbia seja compensada pelos “sofrimentos” a que foi sujeita desde o atentado.

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